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sábado, 27 de fevereiro de 2010

OS PIIGS E AS TURBULÊNCIAS NA EURO-ZONA

AOS AMIGOS (NOVOS E ANTIGOS) DO BLOG:
Após dois longos meses de férias volto a escrever e postar artigos no blog. Tomei a decisão de só postar artigos de minha autoria. Considero isto importante pois me estimulará a escrever mais. Os textos de outros autores continuarei a enviar através do meu e-mail para aqueles que assim o desejarem (professormarcioazevedo@gmail.com).
Divirtam-se com este artigo sobre as turbulências na União Européia.


OS PIIGS E AS TURBULÊNCIAS NA EURO-ZONA

Marcio Azevedo

O projeto da moeda única européia faz parte de uma construção político-econômica originada no pós-guerra. As disputas imperialistas do século XIX avançaram pelo XX afora, causando destruição em larga escala, devido às duas grandes guerras. No “frigir dos ovos” tais guerras nada mais foram do que uma continuidade de séculos de belicosidades entre boa parte dos países europeus.

Ocorre que, ao final da Segunda Guerra, quase todo o planeta havia sido envolvido e sofrido as consequências disso. Daí a necessidade de se buscar efetivar a concórdia entre os antigos oponentes. Daí a importância do surgimento da ONU. Além do mais, a configuração geopolítica que emergiu no pós-guerra já não era mais favorável aos europeus visto que havia duas novas potências em conflito. O sonho inglês e francês de ver Hitler destruir o socialismo soviético transformou-se em pesadelo, já que a URSS saiu da guerra extremamente fortalecida.

Neste contexto, impôs-se a necessidade de novos arranjos institucionais capazes de fazer cessar as tradicionais contendas e, ao mesmo tempo, impulsionar as economias esfaceladas pela destruição dos combates e o esforço de guerra. Com apoio dos Estados Unidos, França e Alemanha, velhos rivais, lançaram-se à liderança do processo de construção de uma experimentação econômica multinacional que mais tarde transformar-se-ia em um projeto político de grande envergadura, o MCE (Mercado Comum Europeu, que a partir de 92 transformou-se em UNIÃO EUROPÉIA).

O Tratado de Maastricht(1992) estabeleceu as condições para a entrada em circulação do EURO, a moeda única européia, e para que cada país do bloco pudesse aderir ao mesmo. As mais importantes são: ao aderir ao euro o país abre mão de sua política monetária e cambial, visto que isto é atribuição do BCE, o Banco Central Europeu; o déficit fiscal (diferença entre a arrecadação e as despesas governamentais) não pode exceder anualmente 3% do PIB; e a dívida pública não pode exceder 60% do PIB.

Quando o euro entrou em circulação física em 2002, dos 15 países do bloco 11 aderiram. Posteriormente este número aumentou para 16 em função, principalmente, da entrada de 12 novos membros na União Européia. Pois bem, o que tudo isto tem a ver com as turbulências econômicas pelas quais vários países europeus tem passado nos últimos meses? Simples. Vários países “maquiaram” seus balanços para poder adotar o euro. Atualmente, a União Européia está investigando 12 países entre os 16 da zona do euro por suspeita de “contabilidade criativa”.

Alguns países em especial estão em uma situação bastante delicada. Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha vem sofrendo inúmeros reveses pois seus déficits fiscais estão muito elevados (Irlanda – 12,2%, Grécia – 9,8%, etc) e suas dívidas públicas não param de subir (Itália – 100,8% do PIB, Grécia – 94,5% do PIB). Esta situação desmoraliza a zona do euro e contribui para a desvalorização da moeda nos mercados internacionais. Os mercados tem utilizado o termo PIIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha(Spain em inglês)), fazendo uma alusão à palavra porcos em inglês, para se referir aos problemas causados por estes 5 países.

Mas, por que tudo isto veio à tona neste momento? Na verdade tal “castelo de cartas” começou a ruir a partir de 2008, quando a crise financeira internacional sofreu o grande baque causado pela quebra do Lehman Brothers, AIG e outros. A partir daí os empréstimos internacionais escassearam por um bom período deixando inúmeros países com suas finanças a descoberto, visto que não conseguiam mais se refinanciar. Ficou claro que havia uma enorme quantidade de países extremamente alavancados (deviam demais e não tinham condições de honrar estas dívidas em um momento de crise) por pura irresponsabilidade de seus governantes e ganância dos agentes financeiros.

Na Europa o problema pode gerar um turbilhonamento econômico gigantesco devido à aposta feita na criação da zona do euro e na consequente política cambial e monetária única. Ou seja, se um país do grupo quebra ou dá um “calote” (default), arrasta todos os outros com ele. O economista e ex-ministro Delfim Netto considera que uma situação como esta “pode levar à destruição do euro e a uma crise do tamanho da de 1929(...)”.