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sábado, 4 de dezembro de 2010

Crime organizado no Rio de Janeiro

Invadir é muito fácil.
Se acreditarmos docemente, docilmente no que a grande mídia tem veiculado ao longo dos últimos dias, rapidamente chegaremos a duas conclusões: I. o Rio se transformou numa Colômbia de tempos idos ou no atualíssimo México, totalmente conflagrado em uma guerra civil sem trégua; II. A paz social finalmente chegou graças à firme e decidida ação da polícia, a polícia de nossos sonhos.

Evolução do crime organizado no Rio

Nenhuma das duas opções procede, nenhuma é verdadeira nem será, pelo menos a curto ou médio prazo.

A evolução do crime organizado no Rio de Janeiro começa na década de 70 com a criação da Falange Vermelha que teve como líderes principais Rogério Lemgruber (o Bagulhão), Willian da Silva Lima (o Professor), José Carlos dos Reis Encina (o Escadinha), Jorge Saldanha (o Zé do Bigode) e Orlando Conceição (o Orlando Jogador). Outros se somariam a estes, assumindo o controle de diversas favelas tais como José Carlos Gregório (o Gordo), Darcy da Silva Filho (o Cy de Acari), Romildo Souza Costa (o Miltinho do Dendê), e Zacarias Gonçalves Rosa Neto (o Zaca) entre outros. A política desses criminosos em relação às comunidades era muito clara. Impediam outras atividades criminosas na região, agindo como justiceiros do local e davam assistência do tipo cesta básica, transporte para hospitais e pagamento de funerais dos moradores. Estes chefes do tráfico consideravam as escolas como verdadeiros santuários que ninguém devia desrespeitar. Muitos diretores quando tinham problemas sérios com alguns alunos recorriam a eles que atemorizavam a criança/adolescente, exigindo respeito para com os professores e funcionários da escola. Também era comum que pais de filhos muito rebeldes levassem o filho para ter uma “conversinha” com o líder local do tráfico. Além disso não incomodavam as associações de moradores, até mesmo ajudando-as. Tanto que na década de 80 muitos suspeitavam de relações perigosas entre a FAFERJ (Federação das Associações de Moradores das Favelas do Rio de Janeiro) e os criminosos, algo que nunca foi provado. Isto os fazia respeitados e até mesmo admirados por muitas pessoas das favelas. Devido a estas práticas, como contrapartida, recebiam proteção de muitos moradores. Mas, na medida em que esta “velha guarda” foi sendo aprisionada ou morrendo, novos chefes foram assumindo o controle do tráfico nas favelas e a relação com os moradores se deteriorou.

As coisas também pioraram porque no final de década de 80 teve início o fracionamento da Falange em função da luta pelo poder, sua posterior mudança de nome para Comando Vermelho e o surgimento de novos grupos dos quais ainda atuam com alguma importância basicamente o CV, o ADA (Amigos dos Amigos) e o TCP (Terceiro Comando Puro). Além disso, no final da década de 90 ocorreu um recrudescimento do fenômeno das milícias. Antigos esquadrões da morte formados geralmente por policiais, ex-policiais, ex-integrantes das ffaa e bombeiros, estes grupos decidiram retomar algumas favelas das mãos do tráfico e entrar em outras, oferecendo “proteção” aos moradores e posteriormente, diversificando suas atividades, passando a controlar a venda de botijões de gás, gatonet (TV a cabo pirata) e do transporte alternativo. Isto deu origem a uma luta pelo controle das comunidades já que os negócios haviam se expandido consideravelmente, gerando uma lucratividade extraordinária para os bandidos. Segue-se que muitas favelas passaram a ser dominadas por bandidos de fora, que não tinham nascido nem tinham residência ali. As comunidades reagiram mal a isto e se dissociaram completamente dos bandidos. Isto gerou uma forte reação, pois os traficantes e milicianos passaram a se impor pelo terror, impondo um cotidiano de violência e desrespeito para com os moradores. Como contrapartida, muitos moradores passaram a denunciar com frequência as ações do tráfico e das milícias, levando a mais fraturas nas relações dentro das favelas. Esta situação não mudou como pudemos perceber na atitude dos moradores estes dias, aplaudindo e dando boas-vindas aos policiais na Vila Cruzeiro e no Alemão.

Geografia do crime no Rio

Atualmente os grupos estão divididos no que diz respeito ao controle das favelas, da seguinte forma:

COMANDO VERMELHO – Controle da Zona Norte e parte da Leopoldina. O quartel-general fica (va) no Complexo do Alemão, principalmente devido ao seu tamanho, à ligação com a Vila Cruzeiro e às suas 44 vias de escape. Um estudo recente realizado pelo antropólogo Paulo Storani com 250 favelas detectou a presença do CV em 84 delas, mas é preciso ressaltar que há cerca de 1000 favelas no Rio e o estudo detalhou a situação de ¼ delas.

ADA (Amigos dos Amigos) – Controle de boa parte da Zona Sul, dos Complexos da Maré (Leopoldina), Pedreira (Costa Barros) e Centro (São Carlos, Zinco, Querosene, Mineira e Coroa). Racha do CV, seu fundador foi Paulo Cesar Silva dos Santos (o Linho) que desapareceu. Teve também a liderança de Ernaldo Pinto Medeiros (o Uê), morto em Bangu a mando de Fernandinho Beira-Mar, atual líder principal do Comando Vermelho e preso em presídio de segurança máxima. O líder principal do ADA atualmente é Antonio Francisco Bonfim Lopes (o Nem) e seu QG é a Rocinha. Atualmente o ADA é um grupo criminoso diferenciado, quase com características de máfia. O traficante Nem não se furta em ajudar a comunidade da Rocinha, o que faz com que tenha importantes apoios ali dentro. Além disso o grupo investiu na profissionalização do crime, treinando seus soldados e importando muitos deles da região Nordeste. Há uma contabilidade rigorosa que possibilitou o aumento sistemático dos lucros nos últimos anos. Outra característica importante do ADA é sua capacidade de negociar evitando ao máximo a violência. Tentam, com esta atitude, evitar dar “trabalho” à polícia. Isto é reconhecido por muitos policiais do Rio.

TERCEIRO COMANDO PURO – Originário da Falange Jacaré, a primeira dissidência da Falange Vermelha, o TCP já teve também o nome de Terceiro Comando, tendo sido desarticulado por iniciativa de Beira-Mar. Foi fundado por Nei da Conceição Cruz, o Facão que está preso. Sua área de atuação mais forte é a Zona Oeste, sendo o QG no Taquaral, mas com ramificações em Senador Camará (Rebu, Cavalo de Aço, Vila Aliança e Coréia). Tem presença também em Acari e no Amarelinho, Parada de Lucas entre outros. O líder mais importante depois de Facão foi Robson André dos Santos (o Robinho Pinga), morto de câncer no cérebro em 2007. Atualmente seus líderes são Márcio José Sabino Pereira, (o Matemático), um dos fundadores, Capilé, Abelha e Crânio. Tal como o CV é considerado um grupo muito violento.

AS MILÍCIAS – Não há uma liderança unificada, mas ocorrem relações eventuais entre algumas delas e entre milicianos e traficantes, tais como “venda” de favelas entre outras coisas. Tidas como “mal menor” durante algum tempo, atualmente são bastante combatidas pelo Estado por causa de sua truculência, da presença de policiais, do tráfico de drogas e outras atividades ilícitas. Tem forte atuação na Zona Oeste e penetraram na Baixada Fluminense. Alguns de seus líderes chegaram a se eleger vereadores e deputados, mas tiveram seus mandatos cassados. Juntas controlam mais favelas do que os outros três grupos criminosos, mas há uma batalha constante para a permanência no controle de suas áreas. O filme Tropa de Elite 2 mostrou de forma bastante crua a realidade desses grupos.

A ação das polícias

Embora seja redundante, é preciso deixar claro que a situação do Rio só chegou a este ponto porque as forças de segurança permitiram. Significativa parcela de policiais civis e militares tem relação com os traficantes e com as milícias. Estas relações ocorrem em diversos níveis. Pode ser a mais comum que é receber uma propina para “virar a cara” (em vários locais isto fica na casa dos 400,00 por semana para os subalternos); o “arrego” pode ser de outro jeito, com os policiais entrando nas favelas para pegar a grana da semana em troca de não invadirem o local; pode ser também o pagamento para libertar alguém importante que foi preso de forma fortuita; pode ser através de associação direta entre policiais e traficantes. É preciso deixar claro que este processo de suborno não envolve apenas os praças, cabos e sargentos. Há oficiais intermediários e até mesmo vários coronéis na jogada.

Além disso, historicamente o Estado abandonou as favelas, deixando-as entregues à própria sorte. Criou-se uma cidade informal com uma população que precisa ter acesso a todos os serviços básicos de infra-estrutura existentes na cidade formal. Ora, se o Estado não oferece os serviços, esta população vai buscá-los da forma que for possível, geralmente de maneira ilegal, o que não quer dizer que o povo dessas comunidades seja criminoso. Apenas estão sobrevivendo da forma que podem. Na verdade pode-se dizer que estão praticando atos de desobediência civil embora não tenham consciência disso. Da mesma forma, no que diz respeito ao quesito segurança pública, as comunidades foram totalmente abandonadas pelo poder público que deixou o tráfico, e mais recentemente as milícias, tornar-se polícia, justiça e carrasco dentro delas.

A atual situação

A polícia do Rio vem implantando no governo Cabral uma política de entrada e permanência nas favelas dominadas pelo tráfico de drogas. Esta política não é nova nem inédita. Já havia sido proposta por Luis Eduardo Soares no final da década de 90, quando secretário de Segurança Pública. Mas, inegavelmente é um projeto que merece apoio, embora ainda esteja no início (há apenas 13 UPPs implantadas) e apresente inúmeras falhas. Não há dúvidas de que para o Estado assumir efetivamente o controle da maioria das favelas do Rio serão necessários muitos anos de políticas sistemáticas de segurança e melhorias sócio-econômicas. Quanto maior for o desenvolvimento econômico do país, quanto maior for o investimento em educação e em geração de emprego e renda, maiores serão as facilidades para a redução de todo tipo de criminalidade. É fundamental que tais políticas estejam acopladas para que haja avanços em todas as pontas.

O tráfico é absurdamente lucrativo, pois um quilo de maconha pode render mais de mil reais e um quilo de cocaína pode render cerca de 15 mil reais. Por isto é tão difícil e desinteressante desarticular o modelo territorialista implantado no Rio de Janeiro pois rende dividendos para milhares de criminosos e outros milhares de policiais corruptos. Se levarmos em conta o que foi encontrado e apresentado à mídia, entre armas e drogas no Complexo do Alemão, o prejuízo para os traficantes já se aproxima de 100 milhões de reais. E, começam a pipocar denúncias de que drogas (cocaína, principalmente), armas e dinheiro sumiram misteriosamente, já que os jornalistas não têm permissão para acompanhar as batidas policiais. Os jornais já estão trazendo denúncias de que alguns chefes do tráfico teriam fugido em carros da polícia, sob proteção de agentes da lei. Outras informações dão conta de que muitas drogas e armas foram retiradas do Alemão dentro de Caveirões, os blindados da polícia. Igualmente circulam informações nos bastidores das operações de que os caveirões teriam sido utilizados para retirar dezenas de corpos de traficantes sem identificação para serem enterrados em cemitérios clandestinos em Magé e São Gonçalo. A polícia reportou cerca de 50 bandidos mortos e não tem explicação convincente para o sumiço de mais de duzentos criminosos. Não interessa ao governo divulgar um número muito elevado de mortes pois as organizações internacionais de direitos humanos tais como a Human Whrigts Watch e a Anistia Internacional estão acompanhando de perto as operações, prontas para denunciar violações e execuções. E isto tem sido dito por policiais que estão acompanhando as operações. Lamentavelmente a maioria da população do estado considera que o correto é a matança, é o assassínio dos criminosos. Acreditam que a Lei de Linch, muito utilizada no Oeste dos EUA no final do século XIX, é a mais adequada para os traficantes. Esta posição reacionária é corroborada pelos agentes da lei que se consideram no direito de executarem quaisquer pessoas. A população, ignorantemente não entende que esta “carta branca”, esta “licença para matar” dada aos policiais leva a sociedade inevitavelmente ao estado de barbárie absoluta, e que isto, em algum momento, pode se voltar contra os cidadãos de bem, pois como se sabe a História está cheia desses exemplos. É muito difícil para o povo mais simples entender o que significa Estado de Direito. Mas espanta ver pessoas com elevado grau de instrução e de informação assumirem este tipo de posição homicida, como vem ocorrendo estes dias em diversos círculos. Isto sim é muito perigoso.

Outro dado muito importante que não tem sido divulgado pela mídia é que esta operação na Vila Cruzeiro e no Alemão já vinha sendo planejada pela polícia há algum tempo. As ações terroristas perpetradas pelo tráfico apenas aceleraram a execução do que vinha sendo articulado. A polícia vinha se preparando para dar um grande golpe no Comando Vermelho, considerado o maior inimigo entre os grupos criminosos. Portanto, nada foi de última hora, não foi apenas uma ação reativa das forças de segurança. Já havia um planejamento estratégico que foi antecipado em função dos acontecimentos. Neste sentido, não há dúvidas de que os criminosos deram uma ajuda à polícia criando um clima de terror e pânico no estado. Não se pode negar também que nem todos os incêndios de automóveis foram realizados pelo pessoal do CV. Sabe-se que algumas milícias também participaram, tentando se aproveitar da situação para enfraquecer o CV. Já houve até relatos de carros incendiados por seus próprios proprietários, aproveitando a “onda”, em busca do dinheiro do seguro.

O saldo é positivo no que diz respeito ao golpe desferido contra o CV. Alguns afirmam que vai ser bastante difícil eles se recuperarem nos próximos meses. Há policiais vaticinando que pode até ocorrer uma dissolução do grupo.

Concluindo

Em vários países desenvolvidos há tráfico de drogas ilícitas. A Holanda é o caso mais emblemático a ser citado. Ali as drogas leves (maconha, haxixe) são liberadas para venda nos coffe shop, com uma limitação semanal. Mas há nas grandes cidades como Amsterdã e Roterdã, venda livre de drogas pelas ruas, como pude constatar pessoalmente. Vende-se cocaína, Ecstasy e LSD à vontade, de forma pacífica e desarmada. Isto significa que não existe o terror nem a submissão de parte da população a traficantes truculentos. Ninguém fica refém de criminosos em seus bairros. Há outros países como os Estados Unidos onde, nas periferias, por omissão das forças policiais tal como no Rio, e em função da forma como os sucessivos governos vêm tratando a questão (a famosa e ineficaz War on Drugs), as populações acabam ficando reféns de grupos criminosos. Mas está claro que este modelo territorialista e fortemente armado tende a desaparecer na medida em que o Estado vai assumindo de fato suas funções de proteção da sociedade. Pode parecer um pouco utópico mas aparentemente o que ocorre em países como a Holanda é um possível caminho futuro do tráfico de drogas em diversos outros países, incluindo o Brasil.

domingo, 10 de outubro de 2010

1000 visitas no blog /Entre a preocupação e a esperança

Em 12 de novembro de 2009 eu dava as boas vindas neste blog aos que estivessem interessados em compreender melhor o mundo e o Brasil. Pois onze meses depois o blog atingiu a marca de 1000 visitantes. É bem pouco, mas fico bastante feliz porque é simbólico e bonito. Para falar a verdade foi bem mais que isto pois só instalei o contador há seis meses. Mas, como dizem os magistrados “o que não está nos autos (do processo) não está no mundo". Portanto, oficialmente, atingimos 1000 visitas em 10/10/10, data igualmente simbólica.
Quero agradecer aos que me dão o prazer de acessar o blog e dizer que logo após as eleições retornarei com os textos analíticos sobre nosso mundo e suas contradições. Por enquanto estou imbuído da missão REPUBLICANA de ajudar este país a continuar mudando para melhor, de fazer as pessoas entenderem que por mais críticas que tenham a um governo, é sempre necessário compará-lo com os outros e verificar onde houve mais avanços e com base nisso tomar sua decisão, sendo o mais pragmático possível. Devemos nos perguntar sempre: Quero um país melhor para viver? Quero que meus descendentes vivam em um país desenvolvido, autônomo, que tenham uma vida plena de oportunidades? Se suas respostas forem SIM, então você, mesmo tendo inúmeras críticas ao governo Lula, não hesitará em votar em DILMA ROUSSEF no dia 31. Tenho a mais plena certeza de que ela possui todos os atributos necessários para governar bem este país e dar continuidade, melhorando, às políticas iniciadas por Lula. Políticas das quais nos últimos 5 anos ela foi a principal gestora, foi quem gerenciou tudo. Não se deixem levar pelas armadilhas sórdidas que a direita estúpida e golpista vem criando para tentar impedir a vitória de DILMA. Não aceitem a manipulação da grande mídia. Pensem apenas com suas cabeças, com suas consciências. Não deixem que outros pensem e decidam por vocês.
Mais uma vez peço desculpas por fazer campanha neste espaço, mas espero ser perdoado na medida em que vocês analisem que estou apenas pensando no futuro deste país, no futuro de vocês e no de seus descendentes. As minhas intenções são definitivamente as melhores. Como afirmou certa vez Fidel Castro Ruiz “A HISTÓRIA ME ABSOLVERÁ”.

Aproveitem a comparação abaixo para aprofundar suas análises.

CLIQUE NA IMAGEM DUAS VEZES PARA VER POR INTEIRO.

domingo, 26 de setembro de 2010

Porque voto em DILMA ROUSSEF

"Não há futuro! O que existe é o hoje, é cada dia. E a cada dia temos de dar o máximo pela nossa felicidade. A cada dia temos de nos superar. A cada dia temos de não sucumbir. A cada dia temos de crer em nossa importância, crer que somos fundamentais".
Marcio Azevedo

Estudo o Brasil há 30 anos. Comecei minha trajetória política em 1978, fazendo movimento estudantil secundarista e lutando pela anistia aos exilados e presos políticos da ditadura militar. Em 1979, sempre acreditando na luta por um mundo mais justo e solidário decidi ingressar no sacerdócio e me tornar padre. Em 1980 desisti do sacerdócio, ingressei na JOC, Juventude Operária Cristã e participei das discussões para a fundação do PT, Partido dos Trabalhadores. A JOC foi uma grande escola de formação histórico-política. A cada mês tinhamos reuniões dedicadas apenas a estudar e analisar a conjuntura política do Brasil e do mundo. Fazíamos seminários para entender o funcionamento da sociedade capitalista e para conhecer melhor a proposta do socialismo científico de Marx e Engels. Analisar o Brasil e sua trajetória desde a colonização até os dias de hoje tornou-se, para mim, parte do cotidiano. Quando finalmente optei por priorizar a militância partidária, tornei-me um dos cérebros do PT em São João de Meriti e no Estado do Rio. Juntamente com outro intelectual, Orlando Jr., era encarregado de fazer as análises de conjuntura para subsidiar os companheiros do partido e os documentos em que nosso grupo político se posicionava tanto em São João, como dentro do PT. Várias vezes viramos noites inteiras bebendo café e escrevendo estes textos. Tornei-me, como dizia Antonio Gramsci, um “intelectual orgânico”. Aliás, Gramsci (pensador italiano e fundador do PCI) é a minha referência teórica até hoje

Participei de todas as grandes lutas na Baixada Fluminense e no Rio de Janeiro durante a década de 80. Tinha um imenso orgulho de continuar lutando por tornar este um mundo melhor para todos. Organizamo-nos para lutar pelo saneamento básico para a Baixada Fluminense. Lutamos pelas DIRETAS JÁ em 1983/4. Lutamos por uma Assembléia Constituinte livre e soberana em 1985/6. Lutamos por uma Constituição democrática. Por causa disso fui a Brasília diversas vezes para fazer lobby, para pressionar os deputados e senadores a aprovar um texto constitucional que garantisse amplos instrumentos anti-discriminação, que garantisse a realização de uma reforma agrária e consolidasse a democracia nascente no país. Fomos derrotados em algumas propostas e vitoriosos em outras. Foi nossa luta que garantiu o instrumento constitucional da emenda popular. Foi graças a este dispositivo constitucional que surgiu o projeto de lei da FICHA LIMPA que tem causado tanto desespero aos políticos corruptos.

Participei como um dos coordenadores estaduais da campanha eleitoral mais bonita que este país já viu: a presidencial de 1989. Vislumbrando sempre um país melhor, trabalhei ativamente em todas as campanhas presidenciais do LULA. Me afastei da militância política a partir do momento em que a necessidade de sobrevivência, de construir um patrimônio mínimo, de cuidar melhor das minhas filhas se impôs. Mas não me afastei das minhas crenças, dos meus princípios. Estes sempre estiveram presentes e estão até hoje, em minhas aulas, em meu contato com os alunos. Continuo acreditando que podemos construir um país cada vez melhor.

E neste sentido, com a bagagem política que tenho, com o conhecimento que adquiri sobre este país, levando em conta tudo o que estudei e vivi até hoje, não consigo vislumbrar governo melhor na história do Brasil do que o governo de LULA. Ao longo da história republicana tivemos em Vargas um visionário que lutou e trabalhou muito para que o Brasil se desenvolvesse. E tivemos em LULA, um ex-retirante nordestino, ex-metalúrgico um líder profundamente identificado com as mazelas do povo, que conheceu a miséria, a fome, a falta de tudo. Conheceu e soube nunca se distanciar disto. Conheceu e quando finalmente se elegeu presidente sabia exatamente a quais segmentos da população seu governo iria dar prioridade. JK e os militares pensaram um Brasil com um mercado consumidor em torno de 30% da população. LULA pensou e realizou, num mercado consumidor amplo, composto pela maioria da população. Seu sonho é que todos os brasileiros venham a ser consumidores. Obviamente isto ainda não é possível, pois ele só teve oito anos de mandato.

Agora pensemos: se tivermos mais uns dois ou três governos com a mesma mentalidade e os mesmos objetivos de LULA, por volta de 2020 o Brasil já estará inserido entre os países desenvolvidos deste planeta. E o que é melhor, um padrão de desenvolvimento inclusivo, que tem a distribuição de renda como meta, que inverte as prioridades tradicionais dos mandatários deste país. E, o que é melhor ainda, capaz de fazer tudo isto aumentando os lucros dos capitalistas brasileiros. Ou seja, o Brasil vem sendo palco de um dos mais importantes laboratórios político-econômicos das últimas décadas, indo totalmente na contramão do neoliberalismo e de suas doutrinas excludentes e concentradoras de renda.

Por tudo o que expus, porque hoje, olhando para trás, vejo que fui parte da História recente deste país. Não preciso ler sobre o que ocorreu no país nos últimos trinta anos pois eu estava lá, fiz história, sou parte desta história. Hoje sinto um imenso orgulho de ter participado de tudo o que ocorreu de importante neste país nas últimas três décadas.

Não sou acrítico em relação ao governo LULA. Ao contrário, sei que houve falhas sérias, mas sei também que muito do que não se fez foi por absoluta impossibilidade até mesmo orçamentária. O Congresso Nacional também não ajudou muito pois ali foram barradas diversas iniciativas do Executivo. E mesmo com as falhas e as singularidades/impossibilidades, não tenho dúvida em afirmar que LULA fez um governo espetacular.

Por tudo o que expus, porque sei que sou uma pessoa conceituada, proba, honesta. Porque sei que muitos admiram minha trajetória é que humildemente peço a todos os meus amigos, todos os meus alunos, todos os que me conhecem e sabem dos valores em que acredito que votem em DILMA ROUSSEF para a presidência deste país.

DILMA ROUSSEF é a garantia de continuidade de tudo o que Lula soube fazer. DILMA encarna a possibilidade de continuarmos no rumo do desenvolvimento econômico com justiça social. Acredito piamente que ela fará um excelente governo, por isto estou empenhando minha trajetória, minha palavra e minha imagem na defesa de sua candidatura à presidência deste país que tanto amo.

Um forte abraço a todos e até a VITÓRIA!!

terça-feira, 7 de setembro de 2010

AS REAIS MOTIVAÇÕES DE SERRA

Estou publicando abaixo a introdução do livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr., publicada no site Conversa Afiada, do jornalista Paulo Henrique Amorim, em junho deste ano. Pelo que se percebe foi a existência deste livro e a iminência de sua publicação que levou a campanha de José Serra a deflagrar a “operação quebra de sigilo”(este nome é invenção minha), bastante bem repercutida pela mídia oligarca (FSP, O Globo, Veja, Estadão), buscando “matar dois coelhos com um só tiro”. Ou seja, além de tentar imputar a responsabilidade das quebras de sigilo à campanha de Dilma, tentando desmoralizá-la para que Serra voltasse a subir nas pesquisas, buscava-se atingir diretamente o jornalista Amaury Ribeiro Jr. afetando sua credibilidade e demonstrando que seu livro seria um conjunto de invencionices, fruto de quebras ilegais de sigilos fiscais. A verdade é que este é um movimento desesperado de José Serra que já tem absoluta certeza da derrota em 3 de outubro e busca salvar-se de alguma forma. O que fica claro é que Serra não só terá um enterro político no dia 3 de outubro mas, quando da publicação do livro terá também o enterro da sua (falsa) moralidade.

É preciso lembrar que Serra é o mestre desse tipo de jogada suja, como se pode ver abaixo:

1- O caso Lunus, da dinheirama que foi encontrada no escritório de Roseana Sarney. Roseana Sarney começara a crescer vigorosamente nas pesquisas eleitorais que antecederam a escolha do candidato do governo em 2002. Em determinado dia seu escritório de campanha foi invadido pela Polícia Federal e Ministério Público, acompanhados de jornalistas - especialmente da TV Globo. Posteriormente, constatou-se que tanto do lado da PF quanto do MP, estavam envolvidos funcionários públicos diretamente ligados ao pré-candidato José Serra. A exposição do dinheiro encontrado liquidou com a candidatura de Roseana e selou o rompimento da aliança PSDB-PFL.

2- O caso dos “aloprados”. Em 2006, no final do primeiro turno, alguns petistas (imbecis, diga-se de passagem) foram flagrados tentando comprar um dossiê para prejudicar tucanos na eleição, com as violações de sigilo fiscal de políticos do PSDB. O tal dossiê era mais uma armação do grupo de Serra, como se constatou posteriormente. Na época, a exposição da dinheirama levada pelos petistas (imbecis, repita-se) no Jornal Nacional, dois dias antes da eleição (a Globo inclusive deixou de dar destaque à principal notícia do dia, o grande desastre com o avião da TAM em São Paulo), levou muita gente a rever seu voto e ajudou a levar a disputa entre Lula e Alckmin para o segundo turno.

3- A operação “Pó para, governador”. Em fevereiro de 2009, quando Serra e Aecio Neves (então governador de MG) disputavam a indicação para a presidência pelo PSDB, um articulista desconhecido escreveu um artigo com o título acima para a Folha de São Paulo. O artigo era um amontoado de idiotices, mas o que importava mesmo era o título. A palavra “pó”, caiu como uma bomba no colo de Aécio Neves indicando que o pessoal de Serra estava disposto a jogar muito sujo (como sempre) nos meses seguintes. Seguiram-se, hoje sabemos, as violações do sigilo de Eduardo Jorge, Verônica Serra e outros, nos meses seguintes. Bem, há várias versões circulando na internet a este respeito. Poderia ser o grupo de Serra, para responsabilizar Aécio, poderia ser o grupo de Aécio, para se defender de Serra. E como o material estava à mão, porque não usar contra Dilma neste momento de desespero?

Não é por acaso que muita gente está receosa com a possibilidade bastante concreta de a Globo montar mais alguma sujeira grande para a sexta-feira, 1º de outubro, visando atingir a candidatura Dilma. Neste quesito a Rede Globo tem mestrado e doutorado. Remember a edição do debate entre Lula e Collor, um dia antes da eleição em 1989 e o que já foi citado acima.

Leia abaixo o que constará do livro de Amaury Ribeiro, publicado no site de PHA:

Livro desnuda a relação de Serra com Dantas. É por isso que Serra aloprou
Publicado em 04/06/2010

Os porões da privataria

Quem recebeu e quem pagou propina. Quem enriqueceu na função pública. Quem usou o poder para jogar dinheiro público na ciranda da privataria. Quem obteve perdões escandalosos de bancos públicos. Quem assistiu os parentes movimentarem milhões em paraísos fiscais. Um livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr., que trabalhou nas mais importantes redações do país, tornando-se um especialista na investigação de crimes de lavagem do dinheiro, vai descrever os porões da privatização da era FHC. Seus personagens pensaram ou pilotaram o processo de venda das empresas estatais. Ou se aproveitaram do processo. Ribeiro Jr. promete mostrar, além disso, como ter parentes ou amigos no alto tucanato ajudou a construir fortunas. Entre as figuras de destaque da narrativa estão o ex-tesoureiro de campanhas de José Serra e Fernando Henrique Cardoso, Ricardo Sérgio de Oliveira, o próprio Serra e três dos seus parentes: a filha Verônica Serra, o genro Alexandre Bourgeois e o primo Gregório Marin Preciado. Todos eles, afirma, tem o que explicar ao Brasil.

Ribeiro Jr. vai detalhar, por exemplo, as ligações perigosas de José Serra com seu clã. A começar por seu primo Gregório Marín Preciado, casado com a prima do ex-governador Vicência Talan Marín. Além de primos, os dois foram sócios. O “Espanhol”, como (Marin) é conhecido, precisa explicar onde obteve US$ 3,2 milhões para depositar em contas de uma empresa vinculada a Ricardo Sérgio de Oliveira, homem-forte do Banco do Brasil durante as privatizações dos anos 1990. E continuará relatando como funcionam as empresas offshores semeadas em paraísos fiscais do Caribe pela filha – e sócia — do ex-governador, Verônica Serra e por seu genro, Alexandre Bourgeois. Como os dois tiram vantagem das suas operações, como seu dinheiro ingressa no Brasil …

Atrás da máxima “Siga o dinheiro!”, Ribeiro Jr perseguiu o caminho de ida e volta dos valores movimentados por políticos e empresários entre o Brasil e os paraísos fiscais do Caribe, mais especificamente as Ilhas Virgens Britânicas, descoberta por Cristóvão Colombo em 1493 e por muitos brasileiros espertos depois disso. Nestas ilhas, uma empresa equivale a uma caixa postal, as contas bancárias ocultam o nome do titular e a população de pessoas jurídicas é maior do que a de pessoas de carne e osso. Não é por acaso que todo dinheiro de origem suspeita busca refúgio nos paraísos fiscais, onde também são purificados os recursos do narcotráfico, do contrabando, do tráfico de mulheres, do terrorismo e da corrupção.

A trajetória do empresário Gregório Marin Preciado, ex-sócio, doador de campanha e primo do candidato do PSDB à Presidência da República mescla uma atuação no Brasil e no exterior. Ex-integrante do conselho de administração do Banco do Estado de São Paulo (Banespa), então o banco público paulista – nomeado quando Serra era secretário de planejamento do governo estadual, Preciado obteve uma redução de sua dívida no Banco do Brasil de R$ 448 milhões (1) para irrisórios R$ 4,1 milhões. Na época, Ricardo Sérgio de Oliveira era diretor da área internacional do BB e o todo-poderoso articulador das privatizações sob FHC. (Ricardo Sergio é aquele do “estamos no limite da irresponsabilidade. Se der m… “, o momento Péricles de Atenas do Governo do Farol – PHA).

Ricardo Sérgio também ajudaria o primo de Serra, representante da Iberdrola, da Espanha, a montar o consórcio Guaraniana. Sob influência do ex-tesoureiro de Serra e de FHC, mesmo sendo Preciado devedor milionário e relapso do BB, o banco também se juntaria ao Guaraniana para disputar e ganhar o leilão de três estatais do setor elétrico (2).

O que é mais inexplicável, segundo o autor, é que o primo de Serra, imerso em dívidas, tenha depositado US$ 3,2 milhões no exterior através da chamada conta Beacon Hill, no banco JP Morgan Chase, em Nova York. É o que revelam documentos inéditos obtidos dos registros da própria Beacon Hill em poder de Ribeiro Jr. E mais importante ainda é que a bolada tenha beneficiado a Franton Interprises.

Coincidentemente, a mesma empresa que recebeu depósitos do ex-tesoureiro de Serra e de FHC, Ricardo Sérgio de Oliveira, de seu sócio Ronaldo de Souza e da empresa de ambos, a Consultatun. A Franton, segundo Ribeiro, pertence a Ricardo Sérgio.
A documentação da Beacon Hill levantada pelo repórter investigativo radiografa uma notável movimentação bancária nos Estados Unidos realizada pelo primo supostamente arruinado do ex-governador. Os comprovantes detalham que a dinheirama depositada pelo parente do candidato tucano à Presidência na Franton oscila de US$ 17 mil (3 de outubro de 2001) até US$ 375 mil (10 de outubro de 2002). Os lançamentos presentes na base de dados da Beacon Hill se referem a três anos. E indicam que Preciado lidou com enormes somas em dois anos eleitorais – 1998 e 2002 – e em outro pré-eleitoral – 2001. Seu período mais prolífico foi 2002, quando o primo disputou a presidência contra Lula. A soma depositada bateu em US$ 1,5 milhão.

O maior depósito do endividado primo de Serra na Beacon Hill, porém, ocorreu em 25 de setembro de 2001. Foi quando destinou à offshore Rigler o montante de US$ 404 mil. A Rigler, aberta no Uruguai, outro paraíso fiscal, pertenceria ao doleiro carioca Dario Messer, figurinha fácil desse universo de transações subterrâneas. Na operação Sexta-Feira 13, da Polícia Federal, desfechada no ano passado, o Ministério Público Federal apontou Messer como um dos autores do ilusionismo financeiro que movimentou, através de contas no exterior, US$ 20 milhões derivados de fraudes praticadas por três empresários em licitações do Ministério da Saúde.

O esquema Beacon Hill enredou vários famosos, entre eles o banqueiro Daniel Dantas. Investigada no Brasil e nos Estados Unidos, a Beacon Hill foi condenada pela justiça norte-americana, em 2004, por operar contra a lei.

Percorrendo os caminhos e descaminhos dos milhões extraídos do país para passear nos paraísos fiscais, Ribeiro Jr. constatou a prodigalidade com que o círculo mais íntimo dos cardeais tucanos abre empresas nestes édens financeiros sob as palmeiras e o sol do Caribe. Foi assim com Verônica Serra. Sócia do pai na ACP Análise da Conjuntura, firma que funcionava em São Paulo em imóvel de Gregório Preciado, Verônica começou instalando, na Flórida, a empresa Decidir.com.br, em sociedade com Verônica Dantas, irmã e sócia do banqueiro Daniel Dantas, que arrematou várias empresas nos leilões de privatização realizados na era FHC.

Financiada pelo banco Opportunity, de Dantas, a empresa possui capital de US$ 5 milhões. Logo se transfere com o nome Decidir International Limited para o escritório do Ctco Building, em Road Town, ilha de Tortola, nas Ilhas Virgens Britânicas. A Decidir do Caribe consegue trazer todo o ervanário para o Brasil ao comprar R$ 10 milhões em ações da Decidir do Brasil.com.br, que funciona no escritório da própria Verônica Serra, vice-presidente da empresa. Como se percebe, todas as empresas tem o mesmo nome. É o que Ribeiro Jr. apelida de “empresas-camaleão”. No jogo de gato e rato com quem estiver interessado em saber, de fato, o que as empresas representam e praticam é preciso apagar as pegadas. É uma das dissimulações mais corriqueiras detectada na investigação.

Não é outro o estratagema seguido pelo marido de Verônica, o empresário Alexandre Bourgeois. O genro de Serra abre a Iconexa Inc no mesmo escritório do Ctco Building, nas Ilhas Virgens Britânicas, que interna dinheiro no Brasil ao investir R$ 7,5 milhões em ações da Superbird. com.br que depois muda de nome para Iconexa S.A…Cria também a Vex capital no Ctco Building, enquanto Verônica passa a movimentar a Oltec Management no mesmo paraíso fiscal. “São empresas-ônibus”, na expressão de Ribeiro Jr., ou seja, levam dinheiro de um lado para o outro.

De modo geral, as offshores cumprem o papel de justificar perante o Banco Central e à Receita Federal a entrada de capital estrangeiro por meio da aquisição de cotas de outras empresas, geralmente de capital fechado, abertas no país. Muitas vezes, as offshores compram ações de empresas brasileiras em operações casadas na Bolsa de Valores. São frequentemente operações simuladas tendo como finalidade única internar dinheiro nas quais os procuradores dessas offshores acabam comprando ações de suas próprias empresas… Em outras ocasiões, a entrada de capital acontecia através de sucessivos aumentos de capital da empresa brasileira pela sócia cotista no Caribe, maneira de obter do BC a autorização de aporte do capital no Brasil. Um emprego alternativo das offshores é usá-las para adquirir imóveis no país.

Depois de manusear centenas de documentos, Ribeiro Jr. observa que Ricardo Sérgio, o pivô das privatizações — que articulou os consórcios usando o dinheiro do BB e do fundo de previdência dos funcionários do banco, a Previ, “no limite da irresponsabilidade” conforme foi gravado no famoso “Grampo do BNDES” — foi o pioneiro nas aventuras caribenhas entre o alto tucanato. Abriu a trilha rumo às offshores e as contas sigilosas da América Central ainda nos anos 1980. Fundou a offshore Andover, que depositaria dinheiro na Westchester, em São Paulo, que também lhe pertenceria…

Ribeiro Jr. promete outras revelações. Uma delas diz respeito a um dos maiores empresários brasileiros, suspeito de pagar propina durante o leilão das estatais, o que sempre desmentiu. Agora, porém, existe evidência, também obtida na conta Beacon Hill, do pagamento da US$ 410 mil por parte da empresa offshore Infinity Trading, pertencente ao empresário, à Franton Interprises, ligada a Ricardo Sérgio.

(1)A dívida de Preciado com o Banco do Brasil foi estimada em US$ 140 milhões, segundo declarou o próprio devedor. Esta quantia foi convertida em reais tendo-se como base a cotação cambial do período de aproximadamente R$ 3,2 por um dólar.
(2)As empresas arrematadas foram a Coelba, da Bahia, a Cosern, do Rio Grande do Norte, e a Celpe, de Pernambuco.

Obs.: Se ficou um pouco dificil de entender, não se desespere, tive de ler duas vezes para consegui-lo.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Porque não creio. No que creio.

Marcio Azevedo

É muito estimulante, portanto complexo, viver sem crenças metafísicas em uma sociedade em que 93%, segundo o IBGE, tem religião e, portanto, acreditam em divindades. Face a esta postura incrédula, sou constantemente inquirido sobre porque não creio e, afinal, no que creio. Refletindo sobre isto, conduzo meu raciocínio em uma direção: porque as pessoas acham que se não acredito em deus, provavelmente não acredito em nada?

Ora, não sou niilista. O niilismo é uma visão de mundo que despreza todas as crenças, que vê o mundo com olhos de derrota, que crê –e isto é um baita paradoxo- na inutilidade do ser e das coisas. Não sou niilista porque creio em uma série de valores racionais; porque acho que o ser humano é absolutamente capaz de evoluir intelectualmente e tornar melhor o espaço em que vive. Aliás, em meu primeiro livro deixo bastante claro que só me é possível existir porque creio. Porque creio e decidi que a função primordial de minha existência seria lutar para tornar o mundo um lugar melhor. Óbvio que isto é um tipo de pensamento bastante piegas sob alguns aspectos. Mas, acredito que é assim mesmo que devo me expressar. Todos os dias, quando acordo, vou trabalhar, me relaciono com as pessoas, faço-o acreditando que posso fazer diferença, que sou capaz de contribuir para o desenvolvimento do pensamento daqueles com quem convivo e que é possível ajudar as pessoas a construir capacidade de crítica em relação a tudo o que os cerca. Afinal, isto sempre é uma escolha a partir do momento em que as pessoas são apresentadas ao caráter costumeiro, habitual, banalizado das suas crenças e posturas diante do mundo. Quando as pessoas conseguem enxergar que as coisas nas quais elas acreditam em nenhum momento foram racionalizadas, que elas o fazem apenas porque “alguém disse” que isto era o certo, que seus pais ensinaram que deveriam pensar dessa ou daquela forma, descortina-se um novo mundo para elas. Um mundo repleto de possibilidades, de potencialidades e, claro, de barreiras e impedimentos, também. Mas a partir daí, cada pessoa conquista o direito de escolher as suas crenças. De decidir individualmente no que quer acreditar nos próximos anos de sua existência. Sem dúvida nenhuma esta pessoa poderá consagrar e continuar as crenças de seus pais, poderá divergir e escolher outro conjunto de crenças, poderá descrer de tudo e de todos, poderá construir um sistema de crenças apenas racionais, ou de crenças racionais mescladas com grande espiritualidade. E a partir do momento em que tiver construído esta criticidade, esta pessoa terá todas as condições para tornar melhor o mundo em que vive. Pode até optar por não fazê-lo, mas sempre terá consciência de que fez uma escolha, de que optou pelo individualismo e, se tiver coragem, sempre assumirá isto diante dos outros. Então, todos os seus atos, sempre serão fruto de um ato consciente, não-manipulado. Mas se a pessoa escolher tornar melhor o mundo em que vive, mesmo que isto se dê em um âmbito apenas doméstico, então, sem dúvida alguma o mundo será um lugar mais interessante para viver a partir daquele momento.

Caso consiga contribuir para que meus educandos atinjam este estágio de criticidade, independente de suas escolhas, seja pelo individualismo, seja pelo que chamo de coletivismo, fico em paz, com a consciência tranquila de que realizei o que me propus. Devo afirmar, apenas para reforçar, que o ideal é que as pessoas assumam a segunda postura, que sempre espero isto de cada ser com quem convivo, mas não tenho direito de absolutizar nada, de ser autoritário e tentar impor o que acho certo a ninguém.

Por causa disso vivo em paz comigo mesmo. Porque as crenças que possuo foram bastante racionalizadas e sistematizadas ao longo dos últimos trinta anos. Só para constar e não deixar nada obscuro demais neste texto, sinto-me na obrigação de pontuar minhas crenças mais profundas.

Acredito no ser humano, em sua capacidade infinita de mudar tudo, de se adaptar a quaisquer circunstâncias. Acredito em justiça como uma construção de regras coercitivas, fundamentais para garantir a convivência entre díspares. Acredito na ética das relações, na capacidade de cada um ser honesto diante de si mesmo e do outro, mesmo e principalmente quando erra. Pois ser ético não é acertar sempre, é fundamentalmente reconhecer que errou, que poderá errar de novo, mas que quer tentar evitar novos erros. Acredito com todas as forças do meu intelecto no respeito que devemos ter para com cada ser vivo. Quando respeitamos o outro, independente de sua visão de mundo, de suas idiossincrasias e de suas divergências conosco, tenho absoluta certeza de que estamos contribuindo para nosso próprio crescimento intelectual, para tornar mais saudáveis as relações e para deixarmos um legado positivo ao mundo. Quando respeitamos o outro nos sentimos bem e sabemos que a recíproca é verdadeira. Acredito na rebeldia porque é um motivador de mudanças, é um impulsionador do mundo, é um antídoto à acomodação, é uma bela forma de passar a vida sobre a terra. Acredito na felicidade e no bom humor porque são chaves para uma vida mais leve, para viver sempre com prazer, para enxergar melhor as contradições de cada um. Para nunca se desesperar, mesmo quando tudo parece perdido e sem sentido.

Não acredito em divindades, em deuses, santos, milagres e quaisquer outras coisas inventadas pela imaginação dos seres humanos. O homem comum necessita de crenças metafísicas, necessita de uma potestade onipresente, onisciente e onipotente pois tem medo de estar completamente abandonado neste imenso universo. Pois tem medo de, totalmente livre para fazer o que bem quiser, dar vazão aos seus instintos mais recônditos, mais despudorados, de libertar mister Hyde, o “monstro” que habita cada ser. Então, para o homem comum deus é uma espécie de superego, sempre a postos para tolhir as ações instintivas do id e construir o equilíbrio do ego*. Este deus é também uma companhia, um verdadeiro amigo de todas as horas. É também uma tábua de salvação para as horas de desespero espiritual ou material. Quando tudo está muito ruim, acreditar que Ele oferecerá ajuda e mostrará um caminho é fundamental para continuar vivendo.

Descri porque analisei histórica e profundamente a trajetória do homem sobre a terra. Se voltarmos ao passado mais distante encontraremos nossos ascendentes vivendo em estado de natureza, cultivando seus medos e sem nenhuma compreensão sobre os fenômenos naturais. Esta é a situação ideal para o surgimento da “idéia de Deus”. Quando as pessoas não entendem absolutamente nada e não possuem o conhecimento, voltam-se para o sobrenatural que, sem necessidade de explicação explica tudo. Basta que a pessoa creia e pronto. Mais tarde, quando as sociedades foram se tornando mais complexas, as religiões passaram a ser usadas para “civilizar” as pessoas, passaram a ser agentes coercitivos que, através de regras e doutrinas, instruíam as pessoas a não fazerem certas coisas, a não tomar certas atitudes pois isto agradaria ao seu deus. Caso este viés não fosse suficiente, a ameaça de um pós-vida de tortura eterna teria de funcionar para manter as pessoas sob controle. Pronto, estava inventado o inferno e seu proprietário, o esperto e cruel demônio. E para garantir que ele nunca possuísse mais poder do que Deus, o ocidente inventou que ele não passava de um ex-anjo (portanto, criado por Deus) que havia pecado e “caído”. Como foi visto que este tipo de manipulação das pessoas funcionava, mais tarde os reinos, impérios e, posteriormente, os Estados-Nação, passaram a usar a religião como forma de controle social, para manter as pessoas pacatas, ordeiras e acomodadas, o que ocorre até hoje. Fica claro então que deus, doutrinas e todo o aparato que acompanha esta visão de mundo foram devidamente inventados pelos seres humanos, primeiro para aplacar seus medos; em seguida para manter a ordem; e, finalmente para controlar a sociedade e sustentar imensos aparatos burocráticos compostos por templos, sacerdotes, despesas, salários etc.etc. No fim das contas tudo isto é perfeitamente dispensável.

Então, diante dessas conclusões sobre a origem da crença na divindade, posso afirmar com tranquilidade que não preciso de Deus para existir, para continuar vivendo. Posso viver com minhas crenças racionais, aceitar minhas limitações, buscar uma vida plena sem precisar olhar o mundo como um espaço pertencente a um ser supremo. Vivo sem pai biológico há 28 anos e não sucumbi. Sem mãe biológica há 26 anos; portanto, sou perfeitamente capaz de prescindir de um pai celestial. Recentemente recebi um e-mail de um ex-aluno, Carlos Augustus, em que ele afirma que assumiu seu ateísmo e não esquece uma frase que ouviu de mim. Faço questão de reproduzir: “Há, aproximadamente, um ano o senhor indicou-me ler e acompanhar o trabalho do Doutor Richard Dawkins e gostaria de dizer a você que gostei muito do trabalho dele e estou mergulhando fundo na filosofia ateísta, pois como o senhor mesmo disse, lembro-me até hoje dessas palavras: ‘Quando o ser humano perde o medo e decide assumir que está sozinho para enfrentar seus problemas, ele vira ateu; não precisa mais de Deus.’
Acho que se não fossem tais palavras eu ainda seria um "ateu dentro do armário" como diz Dr. Richard Dawkins”.

Concluindo de forma bem humorada: defendo minha privacidade e meus momentos de solidão com unhas e dentes e seria horrível crer em um ser que tudo vê (onisciente) e que está em todos os lugares (onipresente). Estou fora.


* Id, ego e superego são conceitos da psicanálise freudiana. Explicando de forma simples, o id é a criança sem limites, sem conhecimento de regras, livre; o ego é a consciência, é como nos mostramos para os outros; o superego é a capacidade coercitiva, é a imposição de limites.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Atividade Industrial e perspectivas do Rio de Janeiro

Marcio Azevedo

1- Primórdios

Durante toda a metade do séc. XIX, os impedimentos para o processo de industrialização no Brasil partiam diretamente da Inglaterra, visto que o país era um bom mercado consumidor para seus produtos. Desde 1810 através do Tratado de navegação e comércio, as relações com a Inglaterra haviam sido priorizadas. Foi somente a partir de 1844, com a Tarifa Alves Branco, que elevou as taxas médias de importação para 44%, e a Lei Eusébio de Queirós (1850), que proibiu o tráfico de escravos, que tivemos o primeiro impulso no processo de industrialização no país.

O processo de industrialização do Brasil teve início no Rio de Janeiro através do visionarismo do Barão de Mauá. Em 1846 o barão fundou o Estabelecimento de Fundição e Companhia Estaleiro da Ponta da Areia, que no ano seguinte já multiplicara por quatro o seu patrimônio inicial, tornando-se o maior empreendimento industrial do país, empregando mais de mil operários e produzindo navios, caldeiras para máquinas a vapor, engenhos de açúcar, guindastes, prensas, além de artilharia, postes para iluminação e canos de ferro para águas e gás. Deste complexo saíram mais de setenta e dois navios em onze anos, entre os quais as embarcações brasileiras utilizadas nas intervenções platinas (leia-se Guerras) e as embarcações para o tráfego no rio Amazonas. O estaleiro foi destruído por um incêndio em 1857 e reconstruído três anos mais tarde. Faliu de vez quando a lei de 1860 isentou de direitos a entrada de navios construídos fora do país. Nas décadas seguintes, outros empreendimentos foram surgindo, em sua maioria voltados para a produção de bens não-duráveis e semiduráveis tais como dentrifícios, sabões, bebidas, fumo, alimentos, tecidos, roupas e calçados, destacando-se também a indústria moveleira (bens duráveis). Uma das mais importantes fábricas do período foi a CIA PROGRESSO INDUSTRIAL, uma das primeiras indústrias têxteis do país, fundada em 1889 e situada em Bangu. Data também do fim do séc. XIX a FUNDIÇÃO PROGRESSO, na Lapa, que produzia fogões e cofres.

2- O século XX

Foi no decorrer das primeiras décadas do século XX que a pioneira indústria carioca teve sua dinâmica alterada, perdendo a liderança para São Paulo e passando a ocupar a segunda posição no conjunto da produção nacional, principalmente em função dos lucros excedentes gerados pelas exportações de café por parte dos produtores paulistas. A queda da participação relativa do Rio de Janeiro no cenário industrial do País foi, porém, acompanhada por uma diversificação na produção local, onde se destacaram as indústrias metalúrgicas, de minerais não metálicos, química e farmacêutica, bebidas, editorial e gráfica, além da construção civil.

Conquanto ainda fosse expressivo o peso dos ramos de bens de consumo imediato, os tradicionais produtores de tecidos, vestuário e calçados, já sobressaíam os fabricantes de bens intermediários e até mesmo de bens de capital.

A partir da década de 1930, e integrando o processo de diversificação, um outro fenômeno marcou a história da indústria do Rio de Janeiro: o deslocamento espacial das unidades produtoras, ou seja, o abandono de fábricas anteriormente localizadas nas áreas do centro, zonas sul e norte da cidade, e sua instalação em novas localidades da então capital do Brasil. Dentre os fatores que teriam promovido tal movimentação, se destacavam: o progressivo crescimento da cidade; o aumento nas dimensões tanto das empresas quanto das fábricas; a busca de novos mercados consumidores; alterações nos meios de transportes e nos fluxos de energia, além de mudanças tecnológicas da própria indústria. Uma das direções seguidas por esse deslocamento foi através da abertura de novas unidades na periferia da cidade ou em áreas satélites do Rio de Janeiro. Essas mudanças levavam em conta tanto o crescimento interno das fábricas quanto a busca de terrenos mais baratos tendo em vista a valorização de certas áreas da cidade em virtude de obras de urbanização empreendidas pela municipalidade. Além disso, a construção da CSN no Vale do Paraíba, em Volta Redonda (inaugurada em 1946), atraiu inúmeras novas plantas industriais para a região, tanto do setor metalúrgico, quanto do setor de bens de consumo. Além do mais, a abertura da atual BR-116 (Via Dutra), inaugurada em 1951, e da Avenida Brasil, em 1946, foram fatores fundamentais de espalhamento das indústrias, tendo a Baixada Fluminense sido bastante beneficiada por este processo. A Via Dutra é considerada a rodovia mais importante do Brasil, não só por ligar as duas metrópoles nacionais, mas bem como atravessar uma das regiões mais ricas do país, o Vale do Paraíba e ser a principal ligação entre o Nordeste e o Sul do Brasil. A Avenida Brasil atravessa 28 bairros, fazendo importantes ligações: com a BR-040 (Rio-Belo Horizonte), a Via Dutra e a BR-101 tanto no sentido norte (direção Espírito Santo), quanto no sentido sul (Rio-Santos).

Na década de 60, tentando retomar parte do dinamismo perdido pela atividade industrial na Guanabara (atual município do Rio de Janeiro), o Governador Carlos Lacerda criou o distrito industrial de Santa Cruz, atraindo empresas como a Cosigua (Grupo Gerdau), White Martins e a Casa da Moeda do Brasil, entre outras. Lacerda criou também o distrito industrial da Avenida Brasil.

3- A decadência

A partir da segunda metade da década de 70, o Rio de Janeiro entrou em um processo de decadência econômica bastante acentuada. Entre as causas desse processo podemos apontar:
a) Transferência da capital para Brasília e não-realização dos investimentos prometidos pelo governo federal;
b) A criação do estado da Guanabara, que deixou o estado do Rio completamente órfão de inúmeros recursos:
c) A transferência para Brasília de inúmeros órgãos federais, esvaziando parte da economia do estado;
d) A crise econômica internacional que se arrastou por boa parte da década de 80, com reflexos profundos e duradouros na economia brasileira;
e) O elevado endividamento externo do país e dos estados, maximizado pela subida dos juros internacionais, a partir de 1979;
f) As sucessivas más administrações, sem projetos concretos e de longo prazo para o estado.
g) O arrocho salarial da classe média, a elevação do desemprego e o declínio na formação profissional;
h) A decadência da Indústria naval e a privatização da navegação de cabotagem;
i) A favelização excessiva, a expansão do crime organizado e a precarização de áreas como a Zona Norte do município do Rio.

Como resultados concretos, durante vários anos o PIB foi encolhendo, indústrias foram fechando as portas e o setor de logística, igualmente afetado, foi perdendo pujança, com a falência de dezenas de empresas. Pode-se afirmar que o Estado não soçobrou totalmente devido ao início e à posterior expansão das atividades ligadas ao petróleo na região Norte Fluminense, que atraíram inúmeras empresas de suporte para a região, e até hoje rendem royalties vultosos para o estado e para mais de metade dos municípios.

4- A retomada

A recuperação só começou, ainda que timidamente, na segunda metade da década de 90, com a construção da Volks caminhões em Resende (comprada pela MANN, em 2009). Daí para frente, outras plantas industriais foram sendo atraídas aos poucos para o estado. No entanto, foi a partir de 2003 que o governo federal começou a tomar iniciativas no sentido de revitalizar de vez o parque industrial do Rio, levando em conta suas perspectivas de, a médio prazo, estimular o crescimento industrial do país. O Rio entrou na lista de prioridades por seu significado histórico, por ser o segundo pólo industrial do país e pela localização privilegiada, além de possuir uma boa infra-estrutura e a maior parte das reservas de petróleo do Brasil. Mesmo com as dificuldades de relacionamento com a tacanha governadora, vários projetos foram elaborados. A partir de 2007, em função da visão de longo prazo do novo governador, uma série de projetos começaram a ser implementados.

Atualmente, há inúmeros projetos industriais nos mais variados estágios de implantação, e as perspectivas são de que nos próximos 4 anos o Rio de Janeiro reafirme sua importância histórico-econômica no cenário nacional. Vejamos então, alguns dos setores industriais do estado, alguns dos projetos em implantação e dados econômicos do estado.

A- Atividades industriais implantadas e em implantação

O setor mais importante é o petrolífero, pois gera a maior parte das receitas seja através dos impostos e dos royalties, seja devido às exportações. A sede da PETROBRAS fica no Rio, além da REDUC, dos campos exploratórios de gás e petróleo, das novas bacias do pré-sal e do COMPERJ (Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro) em Itaboraí, que já está em construção. Além disso, há a refinaria de Manguinhos e o Pólo Gás-Químico de Duque de Caxias.

Outro setor forte é o sidero-metalúrgico. Além da CSN, tradicional siderúrgica de Volta Redonda, a COSIGUA, na Zona Oeste do município do Rio é uma importante siderúrgica com base em sucata. Recentemente o grande conglomerado alemão Thyssen Krupp, associado à CVRD inaugurou uma importante siderúrgica (CSA) em Santa Cruz, com investimentos de mais de 8 bilhões. Em Resende e Porto Real há um complexo metalúrgico graças às fábricas da MANN Caminhões e da PEUGEOT-CITRÖEN, pois em função dessas duas, várias empresas parceiras ali se instalaram. Além disso, ao longo da via Dutra, principalmente na Baixada Fluminense há várias metalúrgicas.

A Baixada também vem se notabilizando devido ao setor de cosméticos que cresceu consideravelmente nos últimos anos. O Rio concentra várias grandes empresas do segmento como L’Oreal, Embeleze, Niely e Suissa. Somente Nova Iguaçu possui cerca de 30 empresas de cosméticos.

Empresas de vários segmentos têm-se instalado em Duque de Caxias, tais como o Jornal O Globo e o Carrefour, aproveitando a privilegiada posição do município, próximo das principais rodovias brasileiras: Linha Vermelha, Linha Amarela, Rodovia Presidente Dutra, Rodovia Washington Luiz e Avenida Brasil, além da proximidade do Aeroporto Internacional Tom Jobim e a distância de apenas 17 km do Centro do Rio, levando seus produtos facilmente para grandes centros consumidores: São Paulo, Minas Gerais e Sul do Brasil. O maior parque industrial do Rio de Janeiro fica no município, tendo empresas cadastradas como Texaco, Shell, Esso, Ipiranga, White Martins, IBF, Transportes Carvalhão, Sadia, Ciferal, entre outras. No cadastro industrial da Firjan, Duque de Caxias ocupa a segunda posição em número de empregados no Rio de Janeiro e a terceira em número de estabelecimentos, atrás apenas da própria capital e de Petrópolis.

Em São João da Barra, norte do estado, está sendo construído o complexo do Porto do Açu, um empreendimento da LLX logística. Tal empreendimento irá dinamizar toda a região, gerando empregos e levando desenvolvimento econômico. Fica próximo aos campos de petróleo offshore nas Bacias de Campos, Santos e do Espírito Santo. Terá seis braços de atracação para navios graneleiros e quatro braços de atracação para contêineres, produtos siderúrgicos, carga geral e embarcações de apoio a atividades offshore. Na retroárea do complexo será construída uma Zona Industrial, com uma área de 7.800 hectares, projetada para abrigar um pólo industrial que incluirá: um terminal para minério de ferro, plantas de pelotização, usinas termoelétricas, um complexo siderúrgico e um pólo metal-mecânico, para atender às demandas das indústrias de petróleo e bens de capital, unidades petroquímicas, refinarias, indústrias cimenteiras e pátios para armazenagem de granéis e carga geral. O projeto também inclui centros de distribuição e consolidação de cargas, instalações para embarcações de apoio a atividades offshore, montadoras de automóveis e clusters de processamento de rochas ornamentais.

O Rio de Janeiro é hoje o terceiro exportador de rochas ornamentais do país. As regiões norte e noroeste do estado possuem condições amplamente favoráveis para ampliação desse setor. Outro setor importante no Rio: o estado sedia 95% da produção de lentes para óculos no mercado brasileiro.

No Rio de Janeiro estão as duas únicas usinas nucleares do país e a terceira já está em fase licitatória. Angra 3 terá potência elétrica de 1.350 MW. Somada às outras duas unidades (Angra 1 e Angra 2) produzirá energia suficiente para suprir uma cidade como o Rio de Janeiro. Ou seja, o Rio de Janeiro é o principal pólo energético do país pois congrega petróleo, gás e energia nuclear.
O setor naval voltou a crescer. Após a derrocada durante os governos Sarney/FHC, quando foi totalmente sucateado, o setor voltou a produzir, principalmente devido às encomendas de PETROBRAS que orientada pelo presidente Lula, voltou a encomendar plataformas e navios no país. Também agregado à Petrobras, o setor de produção de peças para exploração de petróleo vem crescendo bastante no estado. De olho na grande demanda de tubos que serão necessários para tirar do papel os projetos da petrolífera, a alemã Schulz já iniciou a construção de sua terceira unidade no Brasil. A nova fábrica será instalada no mesmo terreno em que estão as outras duas plantas, em Campos, na Região Norte do estado. O Rio conta com 648 empresas fornecedoras da cadeia de petróleo e novos investimentos estão sendo planejados para os próximos anos.

Há inúmeras outras empresas atuando e planejando novos investimentos como é o caso da gigante francesa Michellin que inaugurou mais uma fábrica no Rio, a Souza Cruz, o setor farmacêutico, a Xerox, o setor cimenteiro, o setor cervejeiro, entre dezenas de outros. Seria muito cansativo ficar citando todas as iniciativas.

Para contribuir com este ciclo de desenvolvimento econômico-industrial do Rio de Janeiro o governo federal está construindo em parceria com o governo estadual o Arco Rodoviário do Rio de Janeiro. O Arco Rodoviário é uma das obras mais importantes para o desenvolvimento do estado, pois vai estruturar toda a malha rodoviária da região metropolitana. Cinco grandes eixos rodoviários serão conectados por meio do empreendimento: A BR-101/Norte (Rio – Vitória), BR-116/Norte (Rio – Bahia), BR-040 (Rio – Belo Horizonte), a BR-116/Sul (Rio – São Paulo) e a BR-101/Sul (Rio – Santos). A extensão total de nova rodovia construída é de 95,9 quilômetros, sendo 25 sob responsabilidade do DNIT e 70,9 quilômetros pavimentados em convênio com o Estado do Rio de Janeiro. Somando esses segmentos ao trecho já existente, o Arco terá 145 quilômetros de extensão. Quando concluído, ele vai eliminar o conflito entre o tráfego de carga e o trânsito do Grande Rio, facilitando o acesso ao Porto de Itaguaí e contribuindo para tornar menos penosa a migração pendular dos trabalhadores da região metropolitana do Rio de Janeiro.

Para finalizar é preciso sinalizar que este artigo tentou mostrar um pouco do histórico das atividades industriais do Rio, e por isto mesmo não teve a intenção de mostrar todo o escopo do processo econômico do Estado. É preciso levar em conta que se o setor primário não tem grande importância para a formação do PIB estadual, o setor terciário é o maior formador do PIB. Este não foi abordado, mas se pensarmos a economia do estado como um todo podemos perceber que está no terciário a grande chance de o Rio de Janeiro dar um salto espetacular em termos econômicos. Teremos a realização da Copa do Mundo de futebol em 2014 e o Rio sediará os Jogos Olímpicos de 2016. Isto significa que setores como o turismo, o comércio e os serviços de uma forma geral terão de passar por incríveis mudanças nos próximos anos. Ou seja, as perspectivas de expansão econômica do estado do Rio de Janeiro são absolutamente impressionantes. A geração de empregos ficará por muito tempo na casa das centenas de milhares e o setor educacional terá de atender pelo menos uma parcela significativa desta demanda. Obviamente que haverá necessidade de importação de trabalhadores quer de outros estados, quer de outros países como já vem ocorrendo.

Fica claro que o Rio finalmente voltou a ser um grande estado, que está retomando sua posição de destaque na federação.

B- Alguns dados:

ECONÔMICOS
-PIB: R$ 419 bilhões (2009 – IBGE)
-PIB per capita: RS$ 26.250,00 (2009 – IBGE)
-% do PIB nacional: 13,0% (2009 – IBGE)

ENERGIA
-Produção de Petróleo: 1,6 milhão de barris/dia (82% da produção nacional)
-Produção de Gás: 24 milhões de m3/dia (41% da produção nacional)
-Energia Elétrica: capacidade instalada de 7.400 MW

EMPREGO E RENDA
-Taxa de Desemprego: 7,0% (2010 - IBGE)
-Rendimento Médio do Trabalho Principal: R$ 1.444,00 (MAIO-2010/IBGE)

BALANÇA COMERCIAL
-Exportações: US$ 6,2bi (1º quadrimestre/2010)
-Importações: US$ 4,4bi (1º quadrimestre/2010)

sábado, 3 de julho de 2010

A PÁTRIA DE CHUTEIRAS? NÃO, OBRIGADO.

Para alguns alunos e amigos eu havia expressado minha opinião sobre a seleção e suas perspectivas nesta Copa do Mundo e por isto o que escreverei adiante não será surpresa. Para outros parecerá que estou me aproveitando do momento, mas a verdade é que nunca acreditei que ganharíamos este título. Cheguei a me indispor com alguns amigos que me consideraram pouco patriota, o que é verdade. Sou NACIONALISTA, não patriota. O “patriotismo é o último refúgio dos canalhas”, como bem expressou Samuel Johnson. Ou, como afirmou George Bernard Shaw “O mundo jamais será tranquilo enquanto não se extinguir o patriotismo da raça humana”. Como estes pensadores, acho o patriotismo uma das maiores idiotices jamais inventadas. Boa parte das guerras, fratricidas ou não, teve o patriotismo como mote inspirador. Os soldados, invariavelmente são preparados para a guerra com base em uma série de frases feitas sobre patriotismo tais como "A pátria é a família amplificada"(Rui Barbosa),ou "a árvore da liberdade deve ser revigorada de vez em quando com o sangue de patriotas: é seu fertilizante natural"(Thomas Jefferson). Julgo desnecessária e irrelevante este tipo de doutrinação. Soldados devem ser treinados para, profissionalmente defender seu país de agressões, venham de onde vierem, e ponto final. Infelizmente as forças armadas fazem uma confusão enorme quando se trata do verdadeiro papel de um exército e apelam para uma manipulação grosseira das consciências, aproveitando-se da fragilidade mental e da falta de criticidade de muitos dos rapazes e moças que ali estão, muitas vezes apenas em busca de um “ganha-pão” honrado e estável.

O patriotismo está sempre muito próximo do fanatismo, do fascismo. Não foi atoa que o auxiliar de Dunga o invocou quando da convocação para a Copa, visto que Jorginho é um fanático religioso. Devo dizer que torci contra a seleção brasileira exatamente porque não queria ver o triunfo dessa ideologia fanática e ditatorial implantada por Dunga e seu auxiliar. E, além disso, embora não seja muito fã de teorias conspiratórias, afirmei para muitos que esta Copa do Mundo não nos estava destinada porque em 2014 o Brasil é que sediará tal evento. Como perdemos uma copa aqui dentro (no Maracanã) em 1950 e isto deixou uma mágoa enorme, uma grande frustração em milhões de brasileiros, obviamente que, de jeito nenhum perderemos a copa de 2014. Não que ela já esteja “comprada”, mas porque com certeza, e há material humano para isto, será formada uma das melhores seleções de todos os tempos para ganhar em 2014. E, sem dúvida, há o componente econômico a conspirar contra nós. Seria extremamente prejudicial aos negócios milionários da FIFA que uma seleção (de país do Sul, diga-se de passagem) conquistasse a copa duas vezes seguida. E, para fechar a moldura, Ricardo Teixeira, presidente da CBF, candidato à presidência da FIFA, várias vezes afirmou "esta copa posso perder, o que não posso é perder a próxima". Meu amigo Ronaldo,um amante do futebol e que considero um expert no assunto, considerou coerentes minhas argumentações, embora tenha deixado claro que ainda acreditava que a seleção brasileira tivesse capacidade de ganhar esta copa visto que tudo, todos os selecionados estão nivelados por baixo. Ronaldo manteve suas esperanças, seu romantismo futebolístico que ontem esvaíram-se junto com a “segunda Era Dunga”, de forma lamentável e melancólica, diga-se de passagem.

Meu nacionalismo, minhas posturas de defesa do Brasil e da sua importância no mundo, da necessidade de acreditarmos em nosso país, da necessidade de fazermos nossa parte para construir um país melhor para as próximas gerações, da importância de investirmos no desenvolvimento e no crescimento econômico e social do Brasil não podem ser confundidas com patriotismo e/ou patriotada, pois na maioria das vezes tal postura se mostra equivocada e cobra um preço muito alto dos que nela acreditam, dos que por ela se deixam levar. É fácil confundir nacionalismo com patriotismo, mas é importante ressaltar que o amor à pátria leva sempre à exacerbações e à acriticidade, quase sempre com consequências funestas. O nacionalismo pressupõe a defesa crítica do seu grupo de origem, de sua nação, dos valores e da necessidade de se investir de forma justa no desenvolvimento daquele país em especial.

Ao longo de minha trajetória, sempre que algum tipo de politicagem adentrou o campo de futebol fui capaz de torcer sem problemas contra a seleção brasileira. Assim foi em 78 e 82, quando a Ditadura Militar, aproveitando-se da grave crise do país, usou a seleção para fazer os brasileiros se alienarem dos problemas que eles, militares, haviam causado ao Brasil. Não posso deixar de registrar que foi muito difícil, muito doloroso torcer contra a maravilhosa seleção de 82. Só não torci contra em 70 por que tinha apenas 9 anos e nada entendia de política. Ademais, aquela seleção era tão estupenda que de nada adiantaria minha torcida contrária. De 86 em diante sempre torci pela seleção. Mesmo quando da primeira “Era Dunga”, em 1990, quando perdemos o título de forma quase vergonhosa, eu estava lá torcendo pela nossa seleção, ainda que fosse um time bastante medíocre, como o foi a atual seleção. E olha que por gostar bastante de futebol, sou também um apaixonado pelo futebol-arte, pela beleza do espetáculo. Coisa que, no Brasil foi deixada para trás em 1986, como bem disse o ex-jogador Sócrates em um artigo recente. Sócrates afirmou ainda, que a partir daquele momento, os técnicos brasileiros passaram a privilegiar o modelo europeu de futebol-força em detrimento do futebol-arte que, tradicionalmente diferenciou o Brasil no cenário internacional. Não é por acaso que há tantos brasileiros jogando fora de nosso país. Isto se deve à excelência do futebol praticado por aqui.

Então, creio ter esclarecido minha posição. Minha extrema criticidade e minha mania de perfeição fazem com que, em muitos momentos eu nade contra a correnteza, mesmo sabendo que serei bastante criticado ou incompreendido, como ocorreu esta semana com minha colega Mariana que nomeou minha postura como de extremo “azedume”. Aliás, achei ótima a expressão, embora não tenha concordado com ela. Em 2014 serei, sem dúvida, um fervoroso torcedor da seleção brasileira de futebol, podem me cobrar.

sábado, 5 de junho de 2010

A Hidra paquistanesa

O Paquistão se localiza em uma área absolutamente estratégica, fazendo fronteira com o Irã, a Índia, a China e o Afeganistão. Inegável a importância político-econômica que Índia e China possuem atualmente. Inegável que o Irã, por suas jazidas monumentais de petróleo e sendo o único país do mundo com um governo Xiíta, cause comoção no mundo por qualquer atitude que tome. Inegável que o Afeganistão, encravado entre o Oriente Médio, o sul da Ásia e a Ásia Central, é motivo de interesse de quem aspira controlar a Grande Ásia.

Com cerca de 170 milhões de habitantes o Paquistão é o sexto país do mundo em população, embora sua área seja reduzida (881 mil km²). Quase cem por cento de sua população professa o Islamismo o que faz dele o segundo do mundo, perdendo apenas para a Indonésia. Outro aspecto importante a ressaltar é a multiplicidade de etnias que o compõem (panjabes, pashtus, sindis, seraikis, muhajires etc), além dos inúmeros grupos religiosos islâmicos. Somente estas poucas informações já seriam suficientes para se ter uma noção da diversidade, do mosaico que é o Paquistão. Há muito mais.

Quando a Índia anunciou possuir a bomba atômica em 1974, o Paquistão decidiu envidar todos os seus esforços para também se tornar uma potência nuclear. Neste sentido o momento de maior tensão entre os dois países ocorreu em maio de 1998 quando, provocativamente o governo ultranacionalista indiano realizou testes nucleares, levando o Paquistão a retaliar, fazendo o mesmo. Diante do temor de uma guerra nuclear o mundo instou os dois países a entrarem em acordo sobre o assunto, o que ocorreu em fevereiro de 1999, através do Memorando Lahore, segundo o qual se comprometiam a notificar-se com antecedência antes de novos testes nucleares.

Durante todo o período da Guerra Fria o Paquistão manteve uma aliança com os Estados Unidos, sendo bastante beneficiado pela superpotência, inclusive com o fornecimento de armas para as contendas com a Índia. Perdeu espaço com a potência quando se aliou ao Talibã no final dos anos 90, embora saibamos que os Talibãs só chegaram ao poder no Afeganistão graças à ajuda dos EUA. O problema é que, no poder, este grupo islâmico radical (sunita) se voltou contra os Estados Unidos.

O Paquistão só abandonaria os Talibãs após o 11 de setembro de 2001, devido às pressões dos EUA. Em função disso o território paquistanês tornou-se base de inúmeras operações do exército estadunidense contra a resistência afegã.

Porém os problemas começam aí. Parte significativa do exército do Paquistão não aceitou voltar-se contra os Talibãs, o que redundou em guarida no território paquistanês para muitos soldados talibãs e, possivelmente, para Osama Bin Laden enquanto os EUA o perseguiam no Afeganistão. Isto ocorreu pois há facções islâmicas dentro do exército paquistanês que odeiam os Estados Unidos. E aí está a origem dos problemas atuais do governo moderado paquistanês.

Muitos analistas internacionais acreditam que o Paquistão é o maior centro mundial de treinamento de terroristas no momento, devido à radicalização ocorrida nos últimos anos. Radicalização esta decorrente também do fato de que em 2006 o governo Bush assinou um acordo de cooperação nuclear com a arquiinimiga Índia, transformando-a em importante aliado na região. Em função disso, os campos de treinamento dos Talibãs dentro do Paquistão se ampliaram consideravelmente até chegar ao ponto de cidades inteiras terem sido tomadas.

As diversas milícias islâmicas que pululam no Paquistão não se dobram ao governo central, tem o apoio de importantes setores do exército e do próprio governo e odeiam profundamente os Estados Unidos. Além disso, a questão da Cachemira continua sem solução, constituindo-se em ponto de atrito importante com a Índia.

Importantíssimo finalizar falando do LeT, Lashkar-e-Taiba (Exército dos Puros), que teoricamente é o grupo radical defensor da integração total da Cachemira ao Paquistão. Ocorre que o LeT não se limita a atuar nesta questão. Sua ideologia é muito mais ampla pois defende a imposição de uma grande nação islâmica, tem total apoio dentro do Paquistão e vem ampliando suas bases de treinamento, bem como sua influência no mundo islâmico. Lutaram contra os soviéticos no Afeganistão, odeiam os Estados Unidos e foram os responsáveis pelo coordenadíssimo e inteligente ataque à cidade de Mumbai, na Índia em dezembro de 2008, além de terem usado armamento de última geração deixando 173 mortos e 308 feridos.

O que está bastante claro é que o Paquistão é o caldeirão mais fervente do radicalismo islâmico internacional. Tal como a Hidra de Lerna da mitologia grega, cujas cabeças regeneravam ao serem cortadas, os grupos radicais islâmicos se reproduzem com enorme facilidade no Paquistão de hoje. Infelizmente ainda não foi dada a devida atenção por parte do mundo a este problema -parece que não há nenhum Hércules disponível-, o que significa que muita coisa ainda vai piorar no cenário internacional nos próximos anos.

sábado, 29 de maio de 2010

Esta semana não postarei novo artigo. Fá-lo-ei na próxima, aproveitando o feriadão. Aproveito para atualizar alguns temas pertinentes com possibilidades de cair nos vestibulares.


1- As eleições presidenciais na Colômbia seguem indefinidas. É quase certo que haverá segundo turno. A situação do candidato governista, Juan Manuel Santos, complicou-se na medida em que vieram à tona dois escândalos contundentes do governo Uribe. O primeiro é o dos "falsos positivos". O exército assassinava civis inocentes e apresentava à mídia como guerrilheiros das FARC para "mostrar serviço". Não se sabe quantas pessoas inocentes foram mortas, o que piora ainda mais a imagem do governo. O segundo escândalo é o das escutas telefônicas. Descobriu-se que durante muito tempo o governo manteve grampeados os telefones de membros importantes do judiciário, do legislativo e de políticos de oposição. Estas descobertas fragilizaram a campanha do candidato governista e deram mais fôlego à candidatura do Verde Antanas Mockus. O primeiro turno ocorre neste domingo (30/05).

2- Terra arrasada é a definição mais razoável para a situação do México. Desde 2007 quando o presidente Calderon decidiu militarizar o combate ao narcotráfico, os grupos mafiosos já assassinaram mais de 23 mil pessoas. A situação configura-se como de guerra civil, visto que os esforços governamentais são absolutamente inócuos e o crime organizado, além de matar no atacado, corrompeu milhares de funcionários públicos, o que facilita sua atuação pois sempre descobre quais serão os próximos passos do governo, antecipando-se a eles. Além disso, 11 dos 44 estados do país vivem sob o domínio do narcotráfico que está cada vez mais bem armado graças às armas de última geração contrabandeadas dos Estados Unidos. Neste sentido a "balança comercial do crime" alcança cifras extraordinárias, configurando uma espécie de divisão do trabalho particular entre os dois países. Os Estados Unidos fornecem armamentos para os cartéis do narcotráfico do México, e compram as drogas produzidas pelos mexicanos. Esta balança comercial já movimenta 24 bilhões de dólares por ano. Só para se ter uma idéia do quanto esta soma é elevada, é maior do que os PIBs de cerca de 90 países do mundo. Hoje já está claro que a Iniciativa Mérida idealizada no governo Bush, visando erradicar o tráfico do México para os EUA, é um absoluto e retumbante fracasso. Mais do que nunca o vaticínio do presidente mexicano Porfírio Diaz no século XIX adquire ares de trágica profecia: "POBRE MÉXICO, TÃO LONGE DE DEUS E TÃO PERTO DOS ESTADOS UNIDOS".

3- Os trabalhadores chineses começam a acordar para a superexploração de que são vítimas por parte das empresas ocidentais que atuam naquele país. Os 1900 trabalhadores de uma fábrica de peças para a linha de montagem da Honda estão em greve desde o dia 21 último. Motivo: querem equiparação salarial com seus colegas das fábricas de montagem dos automóveis Honda no país. Explicando: os trabalhadores da fábrica de peças ganham em torno de 200 dólares por mês; os trabalhadores das fábricas de automóveis ganham em torno de 300 dólares por mês, ou seja 50% a mais, o que se considera uma injustiça com os trabalhadores da fábrica de peças da montadora japonesa. Não há dúvida de que a reivindicação dos grevistas é justa. Mas, só para comparar salários, um metalúrgico da Honda no Brasil ganha em torno de 1400 dólares; e no Japão, cerca de 3000 dólares. Embora saibamos que o custo de vida na China é muito baixo, ainda assim dá para perceber que os salários pagos por lá são absolutamente irrisórios. O interessante nesta questão é a greve em si. A China, devido ao autoritarismo governamental, é um país em que greves são raríssimas. No entanto, percebe-se que o governo vem afrouxando as rédeas nesta questão. Como tem havido grande geração de empregos no interior por iniciativa governamental, ocorreu uma redução da oferta de m.d.o. no chamado cinturão industrial, a região leste-sul no litoral do país. Daí que a correlação de forças entre patrões e empregados pendeu nos últimos tempos, a favor do segundo grupo. Não deixa de ser uma boa notícia.

4- A última vem da conflagrada Ásia Meridional e mostra um pouco da profundidade dos problemas internos enfrentados pela Índia e pelo Paquistão. Um grupo de terroristas SUNITAS, ligados ao Talibã paquistanês atacou e matou em duas mesquitas, mais de 80 pessoas da minoria islâmica AHMADI. Dentre os 170 milhões de islâmicos do país, cerca de 4 milhões são Ahmadis. A intolerância e a discriminação contra este grupo parte dos radicais islâmicos paquistaneses, tanto sunitas quanto xiítas, por isto a razão do ataque às mesquitas, na hora das orações.
Na Índia, um trem de passageiros descarrilou e se chocou com um trem de carga que vinha na direção oposta, após uma explosão causada pelo grupo guerrilheiro NAXALITA, de ideologia comunista (identificam-se como seguidores das idéias de Mao Tse Tung, líder comunista máximo da Revolução Chinesa). Este grupo luta há vários anos contra o governo, buscando uma revolução comunista na Índia, ocupando uma grande região, principalmente no centro do país.

domingo, 23 de maio de 2010

O rei está nu

Marcio Azevedo

A fábula sobre a roupa nova do rei, atualizada, possibilita entendermos que os mais críticos são capazes de ver e denunciar a farsa, proclamando que na verdade “o rei está nu”.

O rei está nu porque finalmente conseguiu-se descobrir que as verdadeiras intenções dos Estados Unidos com relação ao Irã passam pela derrubada do governo, pela instalação de um governo fantoche e a dominação irrestrita das reservas de petróleo daquele país, tal como realizado no Iraque a partir de 2003.

O Irã é o terceiro maior produtor de petróleo do mundo, atrás apenas da Arábia Saudita e da Rússia. A estratégia energética para o século XXI dos Estados Unidos elaborada em 1997, já apontava a necessidade de o país dominar o máximo possível de reservas petrolíferas em várias partes do mundo. Isto incluia o Oriente Médio, a Venezuela e até mesmo o Brasil. Não foi por acaso que Fernando Henrique Cardoso começou a preparar a PETROBRAS para ser privatizada. Isto estava em consonância com os objetivos de Washington. As reservas de petróleo dos Estados Unidos são restritas face ao seu elevadíssimo consumo, sendo suficientes para poucos anos. Daí a importância de se capitalizar com reservas de outros países.

Além disso, ter o controle absoluto do estratégico estreito de Ormuz, a saída e entrada do Golfo Pérsico é algo que interessa muito aos Estados Unidos para a manutenção de seu poder global. Outro aspecto importante envolvido é o interesse das indústrias bélicas em que se desenvolva uma nova confrontação militar na região do Oriente Médio, o que possibilitaria testar novas armas e aumentar seus já fabulosos lucros.

Em todo este contexto o que salta aos olhos é que a mediação do Brasil e a vitória da negociação sobre o conflito, significaram uma intromissão e um empecilho aos interesses imperiais dos EUA. Apostando na paz e obtendo um acordo –que, diga-se de passagem, era exatamente o que os Estados Unidos propuseram ao Irã em outubro de 2009-, o Brasil atirou uma grande pedra no lago, criando inúmeras ondas que se afastam do ponto de queda, agitando o que parecia plácido e desnudando as reais intenções da grande potência diante do mundo. Além disso, inseriu-se, contra a vontade dos que comandam o mundo desde 1945, entre os grandes protagonistas da atualidade. Fica claro que a atitude do presidente Lula equivale a “arrombar uma porta” que estava trancada há muito tempo, desagradando profundamente os que estavam confortáveis naquele recinto. O Brasil está forçando o mundo a uma mudança de paradigma e induzindo a gestação de uma nova Ordem Multipolar Internacional, para desespero do atual centro de poder como se pode ler na matéria do The Washington Post: O Post, na sua cobertura do acordo, (18/05), chama a diplomacia do Brasil e da Turquia de “uma revolta das pequenas potências sobre os direitos e o prestígio da potência nuclear”.

A resposta à “transgressão” de Lula não se fez esperar. De imediato o governo americano enviou ao Conselho de Segurança da ONU uma proposta de novas sanções ao Irã, buscando descredibilizar e “desmitiazar” a iniciativa do Brasil, dando excelente munição para a grande mídia nativa que insiste em que o Brasil deva se curvar a Washington e ficar “quietinho em seu canto”, submisso e aguardando as “ordens” de cima. Isto dá força ao pensamento do candidato José Serra que antes da viagem de Lula afirmou “Eu não receberia nem visitaria o presidente Mahmoud Ahmadinejad”, demonstrando sua afinação com a visão de nossas elites de que o Brasil nunca deve aspirar ter alguma importãncia no cenário mundial.

Passados alguns dias, já se sabe que as tais sanções não terão quase nenhum efeito prático, o que só reforça a idéia de que o objetivo era realmente esvaziar a ação do presidente do Brasil. Ao perceber isto o Irã já anunciou que enviará os termos do acordo para análise da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), consolidando a conquista do Brasil e dificultando as ações posteriores dos Estados Unidos.

Conforme afirmou o jornalista Breno Altman “A intervenção do presidente Lula, afinal, não é reveladora apenas de talento e carisma. Apresenta-se como a conseqüência de uma política internacional autônoma que busca fortalecer laços de todos os tipos entre povos e governos encurralados pela ordem unipolar”.

O que está em andamento é muito grande, gigantesco. É a confirmação de que teve início um novo jogo, com novos jogadores. É certo que o mundo ficará um pouco diferente daqui para a frente. Aguardam-se os próximos lances.

domingo, 2 de maio de 2010

A perpetuação (?) da Lei da Anistia

Marcio Azevedo

Esta semana o STF (Supremo Tribunal Federal) rejeitou o pedido da OAB de revisão da lei de anistia por 7 votos a 2. Demonstraram, com esta atitude que, a ditadura militar ainda não acabou totalmente em nosso país. Na verdade ela paira como um “ser plasmático” que ainda atormenta, amedronta e acovarda importantes setores do país.

Explicando. Em 28 de agosto de 1979 foi promulgada pelo presidente João Figueiredo a LEI DA ANISTIA. Esta lei, por iniciativa do governo, anistiava e devolvia os direitos políticos a todos os que haviam se insurgido contra a ditadura, mas também anistiava todos os que mataram e torturaram nos cárceres e nos porões dos quartéis, DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) e DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna), a serviço da ditadura. Esta lei vem sendo sistematicamente questionada por ex-torturados e familiares dos desaparecidos políticos por culpa da ditadura.

Por conta disso em agosto de 2008, a OAB ingressou no Supremo Tribunal Federal (STF), com uma ação em que solicita àquela Corte para decidir se a Lei de Anistia incluí ou não os crimes praticados por militares e policiais - tortura, desaparecimento e outros. A OAB considera que a lei de 1979 não isenta militares envolvidos em crimes, e deixa em aberto a possibilidade de o Brasil revisar as ações praticadas por "agentes do Estado". Isto significa a possibilidade de processar os perpetradores de tais barbaridades, e até mesmo coloca-los na cadeia.

Porém, o que fica claro com a decisão do STF é que enquanto viverem aqueles que torturaram e mataram sem motivo durante a ditadura não haverá punição estabelecida pelo Estado brasileiro. Somente quando morrer o último torturador importante –oficiais, pois os soldados, cabos e sargentos não contam-, é que haverá a chance de modificação da lei da anistia. O medo dos nossos legisladores e juízes é muito maior do que a vontade de revelar a verdade e fazer justiça.

Interessante é que em dois vizinhos importantes, Argentina e Chile, haviam sido aprovadas leis parecidas ao final das ditaduras, mas, corajosamente, governos posteriores reinterpretaram-nas à luz do direito internacional e do direito humanitário, investigando, detendo, julgando e condenando vários ex-torturadores e assassinos a soldo daquelas ditaduras. Somente no Brasil ainda perdura a covardia e a apatia quando se trata desse espinhoso assunto.

Como afirmou o ex-ministro da Justiça, Tarso Genro, “Considerar passível de anistia política quem torturou, matou, estuprou, esquartejou -como fizeram com Davi Capistrano - e, assim, colocar num mesmo plano ético-moral, estes e os que resistiram ao regime militar, ou se insurgiram contra ele, e mesmo os que defendiam o regime porque acreditavam nele - inclusive usando a força, mas que não acreditavam que havia torturas, estupros ou assassinatos - é uma deformação histórica brutal”.

É possível que esta decisão do STF seja modificada, mas certamente ainda teremos de esperar uns vinte ou trinta anos.

domingo, 25 de abril de 2010

COLÔMBIA – Um país conflagrado

PUBLICO HOJE O PROMETIDO ARTIGO SOBRE A COLÔMBIA. NA VERDADE LÊ-LO EXIGIRÁ UM POUCO DE PACIÊNCIA POIS MAIS QUE UM ARTIGO ACABEI FAZENDO UM PAPER. O PRÓXIMO SERÁ SOBRE O PAQUISTÃO, OUTRO PAÍS QUE ME FASCINA. BOA LEITURA.

A Colômbia é um país de trágicas histórias que fazem parte da “normalidade” nas trajetórias dos países da América Latina. Ali misturaram-se os misticismos dos indígenas e dos espanhóis, gerando deliciosos mitos e superstições, extremamente bem traduzidos nas histórias de Gabriel Garcia Marques, principalmente em sua referência-mor Macondo (cidade fictícia do livro Cem anos de solidão, obrigatório).

Se hoje é um aliado fiel e submisso às políticas estadunidenses, já foi inimigo daquele país, principalmente por ter perdido a região do atual Panamá. Na época os EUA queriam construir o canal, não chegaram a um acordo devido ao impedimento posto pelo congresso colombiano e estimularam o povo da região a lutar pela independência para facilitar a construção do mesmo. A marinha dos EUA ficou estacionada na região para apoiar o movimento independentista, o que atemorizou o exército colombiano. A Zona do Canal foi entregue à administração dos EUA de forma perpétua em 1903, o que só foi revogado em 1977 através do Tratado Carter-Torrijos, que definiu a devolução da Zona do Canal ao Panamá em 31 de dezembro de 1999.

A Colômbia se localiza no norte-noroeste da América do Sul, fazendo a ligação da região com a América Central e faz fronteira com a Venezuela, o Equador, o Peru, o Brasil o Panamá e os oceanos Atlântico e Pacífico, o que o torna um país estratégico. Faz parte do grande complexo amazônico e da região andina, sendo o segundo em população na Am. do Sul e o terceiro em PIB.

Desde 1964 o país vive conturbações advindas dos problemas sociais, do autoritarismo de seus governantes, da miséria de grandes parcelas do povo, da luta guerrilheira, da produção de cocaína e das milícias paramilitares. A Colômbia faz parte do chamado “cinturão branco”, juntamente com Bolívia e Equador, as grandes áreas de produção de cocaína do mundo.

Os grupos guerrilheiros

Em 1964 foi fundada a guerrilha comunista FARC-EP,Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia - Exército do Povo, que passou a lutar pela implantação de um Estado Socialista no país. Outros movimentos guerrilheiros surgiram no período, sendo que entre os mais importantes temos o ELN (um dos incentivadores foi o padre Camilo Torres, que, assassinado, virou um mártir da esquerda internacional) e o M-19 que depôs as armas na década de 90. Portanto, atualmente controlando cerca de 30% do território da Colômbia, atuam as FARC e o ELN.

Várias tentativas de pacificação foram feitas por diversos presidentes da Colômbia. Talvez a mais importante tenha sido de iniciativa de Andrés Pastraña que chegou a desmilitarizar uma área de 42 mil km² para negociar com as FARC, sem ter obtido resultados concretos.

Até hoje as FARC são acusadas de estimular o narcotráfico. Mas a guerrilha nunca apoiou o negócio das drogas. Quando o bloco socialista se desfez, a guerrilha perdeu apoio internacional e boa parte dos recursos que ajudavam a manter a guerra. As saídas encontradas pelos guerrilheiros foram os sequestros, ataques aos quartéis e cobrança de pedágios nas províncias que controlam. Como em várias destas províncias há plantações e refino de coca, os traficantes se tornaram, sem querer, financiadores das atividades da guerrilha, já que são obrigados a pagar impostos e pedágios. Acredita-se que cerca de metade dos recursos da guerrilha sejam oriundos dos pagamentos dos traficantes.

O narcotráfico

A Colômbia é o maior produtor mundial de cocaína, com cerca de 70% do total. O maior mercado comprador da droga colombiana localiza-se nos Estados Unidos. Desde a década de 60, quando teve início a expansão do tráfico da drogas no mundo, os EUA deram início à sua polêmica política War on Drugs, que obteve até hoje resultados pífios e, pior, não foi capaz de deter a significativa expansão e globalização do narcotráfico internacional.

No final da década de 70 surgem no cenário colombiano os dois grandes cartéis da droga: Medellín, liderado por Pablo Escobar Gaviria, e Cáli, liderado pelos irmãos Orejuela. Estes dois grupos criminosos expandiram consideravelmente o negócio da coca na Colômbia, tendo fortes ligações com paramilitares e com membros do alto escalão do governo colombiano. Estas ligações eram tão fortes que, diante das pressões estadunidenses, Pablo resolveu se entregar, nos seus termos: construiu uma mansão fortificada nas montanhas, dotou-a de todo o luxo possível, cercou-se de seguranças armados e entrou com sua família e alguns amigos, concordando em nunca sair dali, e que o exército colombiano fizesse guarda do lado de fora. Ficou tão vergonhoso para o governo colombiano que, pouco tempo depois o acordo foi desfeito e ele teve que fugir, não sem antes ter sido avisado que haveria a invasão por parte do exército. A pressão dos Estados Unidos se intensificou e o governo colombiano iniciou perseguição aos cartéis, prendendo muitos dos líderes e por fim, assassinando Pablo Escobar, considerado o maior traficante de drogas do mundo por um bom tempo, o que redundou na fragmentação dos grupos. Atualmente há inúmeros cartéis de menor porte no país.

Destinado oficialmente a combater o narcotráfico, o Plano Colômbia, uma “ajuda” de mais de 6 bilhões de dólares do governo americano, tinha como objetivo paralelo combater as guerrilhas e ampliar o controle geopolítico dos Estados Unidos na região. Tendo sido um fracasso retumbante, pois o plantio de coca aumentou no período 2000/2006, em cerca de 15%, segundo dados do Tribunal de Contas dos EUA em outubro de 2008 (http://www.gao.gov/products/GAO-09-71), o Plano Colômbia facilitou a entrada e instalação de militares dos Estados Unidos na região amazônica. Uma das ações mais polêmicas do plano, que afetou a vida de milhares de camponeses foi a fumigação por aviões de um tipo de fungo venenoso que serviria para destruir as plantações de coca. Lamentavelmente os outros tipos de plantio foram afetados, aumentando os problemas dos camponeses.

Os paramilitares

Em 1968 uma polêmica lei foi aprovada no país, autorizando a formação de milícias por parte dos cidadãos para defenderem-se das guerrilhas. Isto provocou o surgimento de inúmeros grupos paramilitares que passaram a aterrorizar regiões inteiras e fugiram completamente do controle do exército colombiano. Durante décadas estes grupos saquearam vilarejos e roubaram víveres e dinheiro das populações do interior, além de cometer estupros indiscriminadamente e acobertar o narcotráfico. As organizações de direitos humanos afirmam que estes grupos são os responsáveis diretos pelas maiores violações de direitos humanos na Colômbia.

Posteriormente a lei foi revogada mas as milícias, não. Em 1997 a maiorias dos grupos se uniram e fundaram a AUC, Autodefesas Unidas da Colômbia, cujo líder maior era Carlos Castaño. Esta organização se envolveu em uma campanha sangrenta de massacres de supostos simpatizantes da guerrilha e assassinou intelectuais e líderes sindicais de esquerda, além de militantes pacifistas. Os paramilitares chegaram a somar 5 mil homens em armas. O Human Rights Watch e outras entidades de defesas dos direitos humanos chegaram a denunciar cooperações entre as Forças Armadas oficiais colombianas e os diversos grupos paramilitares. Dissolvida oficialmente durante o atual governo de Álvaro Uribe, após a aprovação de uma polêmica "Lei de Justiça e Paz", que deu imunidade à maioria dos milicianos, sabe-se que havia o interesse de causar boa impressão ao governo dos Estados Unidos. Na prática a extinção da AUC serviu para ratificar o que todos já sabiam, as fortes ligações do presidente com aquele grupo. Tanto que vários membros de seu governo foram denunciados por terem pertencido a AUC.

Os camponeses

Os camponeses colombianos vivem uma situação para lá de dramática. As condições de trabalho e sobrevivência são bastante precárias. O milho é um dos produtos mais importantes do setor agrícola, mas a produção é pequena e o governo não dá apoio, levando muitos a optarem pelo plantio de coca como forma de garantir a sobrevivência. Outros não tem alternativa pois são ameaçados pelos narcotraficantes. Mas, costumam ser ameaçados também pelo exército e, muitas vezes pelas guerrilhas. Ou seja, além de viverem sob pobreza extrema, suas vidas estão em constante risco.

O governo Uribe

Álvaro Uribe foi eleito pela primeira vez em 2002, conseguindo mudar a Constituição e se reelegendo em 2006. Sua política tem sido a mais conservadora possível, dentro dos marcos do neoliberalismo e assumindo uma postura de total submissão aos interesses dos Estados Unidos, razão dos inúmeros recursos aplicados na Colômbia por aquele país. Além disso, negociou recentemente a instalação em território colombiano de 7 (sete) bases militares dos Estados Unidos, o que dará àquele país um controle muito maior sobre a estratégica região amazônica.

Sua política em relação à guerrilha segue a cartilha da guerra sem fim, visto que nunca aceitou nenhum tipo de negociação, optando sempre pelas ações espetaculosas e pelo enfrentamento. Numa sociedade que já se encontra cansada do conflito e onde as guerrilhas perderam praticamente todo o apoio popular anterior, este tipo de postura cai como uma luva, angariando capital político em larga escala. Sem dúvida, o governo Uribe foi quem mais contribuiu para a desmobilização de muitas colunas de guerrilheiros, assassinando à vontade e prendendo muitas lideranças.

Quanto ao narcotráfico, Uribe segue fielmente as diretrizes da DEA (Drug Enforcement Agency), órgão antidrogas do governo dos Estados Unidos. Não dá um passo por iniciativa própria, só faz seguir o que os EUA apontam como correto, visto que os recursos são todos oriundos daquele país. Na prática, poucos resultados apareceram. A parte as prisões de alguns pequenos chefes de cartéis e as mortes de soldados do tráfico, como já se viu neste artigo a produção de coca só fez crescer.

Uribe é um político com, no mínimo, complicados antecedentes. Foi prefeito de Medellín na época em que Pablo Escobar era o grande líder do Cartel da região. O Departamento de Defesa dos Estados Unidos apontava-o, na época em que era ministro e senador, como aliado e amigo de Pablo Escobar. Afirmava-se que prestava serviços para o Cartel dentro do governo. Além disso, como também já visto, suas ligações com os paramilitares são notórias. Ou seja, o presidente da Colômbia tem um passado bastante obscuro.

No início deste ano Uribe tentou junto à suprema corte a aprovação para tentar um terceiro mandato na presidência, com o aval dos Estados Unidos. Interessante notar que a mídia brasileira não fez nenhum alarde desse gesto, como havia feito quando o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, anunciou que tentaria uma nova eleição. Mas a suprema corte da Colômbia rejeitou o pedido de Uribe e ele foi obrigado a indicar um sucessor, Juan Manuel Santos, para as eleições que ocorrerão em 30 de maio próximo. Mas o páreo está duro como se pode ver na matéria do Estadão (http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,oposicao-deve-levar-eleicoes-para-segundo-turno-na-colombia,542190,0.htm).