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sábado, 3 de março de 2012

Comandos dos verbos e padrões de respostas nas questões discursivas e de vestibulares

Os comandos verbais são extremamente importantes na hora de responder as questões das provas de vestibulares. Um erro de interpretação pode levar o candidato a perder uma resposta ou décimos valiosos. As bancas os utilizam como forma de obter respostas desejáveis e também como critério para tirar pontos dos candidatos. Isto ocorre porque o vestibular das universidades públicas é uma peneira de malha finíssima por onde só podem passar uns poucos privilegiados. Por isto é fundamental estar familiarizado com os comandos verbais para que suas respostas exprimam aquilo que a banca está exigindo. Atualmente, em função do ganho de importância do ENEM, fruto dos esforços do governo federal, no Rio de Janeiro, somente a UERJ entre as universidades públicas, realiza provas discursivas. Todavia, universidades de alto padrão como UNICAMP, USP e UNB continuam a aplicar provas discursivas. É, em grande parte por causa disso que a maioria dos bons professores de Língua Portuguesa e da área das Ciências Sociais(Geografia, História, Sociologia, Filosofia) concordam que é de suma importância para qualquer profissional saber se expressar adequadamente, discorrer sobre quaisquer temas de forma coerente e, sinteticamente quando necessário. Na vida profissional, não dominar os recursos básicos da boa escrita pode significar a perda de excelentes oportunidades empregatícias e financeiras.

Vejamos alguns verbos importantes e exemplos de respostas.

ANALISAR
decompor por partes para examinar criticamente.
CITAR
exemplificar, mencionar autoridade, fazer referência a algo.
COMENTAR
fazer uma série de observações esclarecedoras ou críticas para facilitar a compreensão de um texto.
COMPARAR
confrontar para identificar as semelhanças, igualdades ou diferenças.
DIFERENCIAR
distinguir, indicar as diferenças.
DISCORRER
falar o que se sabe sobre um tema.
EXPLICAR
apresentar justificativas, tornar claras as razões.
IDENTIFICAR/APONTAR
reconhecer, apontar elementos dentro do assunto.
INTERPRETAR
esclarecer o sentido, compreender o sentido.
JUSTIFICAR
apresentar justificativas, tornar claras as razões.
RELACIONAR
estabelecer a relação por ventura existente (uma causa, conseqüência, analogia...). Fazer referência a, referir-se a, fazer uma relação de.
RESUMIR
fazer exposição condensada e global do assunto, recapitular em poucas palavras.
TRANSCREVER
copiar textualmente.

Abaixo estão listadas duas questões (sem os textos ou figuras de apoio) e três tipos de respostas possíveis para ajudar na compreensão daquilo que as bancas consideram uma resposta ideal.

1- Calcula-se a idade média da população somando-se a idade de todos os indivíduos e dividindo-se o resultado pelo número total de indivíduos.
Justifique o fato de a África subsaariana apresentar uma elevada população jovem em relação à adulta, portanto uma média de idade muito baixa.

RESPOSTAS POSSÍVEIS

A) A região é muito pobre. As pessoas vivem em condições muito ruins. As mulheres tem muitos filhos. (Em uma escala de 0 a 1,0 ponto esta resposta obteria 0,2)

B) A região apresenta alta taxa de natalidade e baixa esperança de vida ao nascer, pois há muita pobreza, falta de infra-estrutura e planejamento familiar. (Em uma escala de 0 a 1,0 ponto esta resposta obteria 0,6)

C) A região apresenta alta taxa de natalidade e baixa expectativa de vida derivadas dos seguintes fatores: pobreza; baixo acesso à educação e saúde; epidemias; guerras; baixa esperança de vida ao nascer; falta de saneamento básico; fatores culturais derivados de uma sociedade rural; baixo uso de métodos anticoncepcionais (falta de planejamento familiar); e elevado número de filhos por família (mães muito jovens com muitos filhos).
(RESPOSTA DA BANCA)

2- Segundo o INPE, nos últimos meses de novembro, dezembro e janeiro, foram registrados, na Amazônia, 754km² de desmatamentos por corte raso.
Indique o principal objetivo desse desmatamento e as consequências ambientais dessa ação.

RESPOSTAS POSSÍVEIS

A) O principal objetivo é a criação de gado e plantação de soja na região. As conseqüências são muitas, pois pode alterar o clima do planeta e acabar com os ecossistemas. (Nota 0,3)

B) O principal objetivo é econômico pois há muitos interesses em jogo na Amazônia. As consequências são: aquecimento global, mais emissão de gás carbônico, extinção de fauna e flora, e degradação do solo. (Nota 0,5)

C) O principal objetivo desse desmatamento é a abertura de clareiras para agropecuária, extração de madeira, áreas de produção mineral, infra-estrutura de transportes e hidreletricidade. As principais consequências são: redução da biodiversidade, degradação do solo, erosão assoreamento dos rios, alteração de microclima, alteração do ciclo hidrológico, aquecimento global e emissão de gás carbônico. (RESPOSTA DA BANCA)

É, primordialmente em função do que está demonstrado acima, que considero da máxima importância que nós professores tenhamos um elevado grau de exigência em relação às avaliações e aos textos de nossos alunos. Não se trata de atemorizar ou reprovar, mas sim de fazer o trabalho correto, com rigor, educando e levando os alunos a corrigirem suas falhas de formação e aperfeiçoarem a escrita e a coesão textual. Estudo divulgado recentemente comprovou que na década de 80 o aluno mediano saía do Ensino Médio com um vocabulário básico de 2 mil palavras. Atualmente este vocabulário reduziu-se a 800 palavras! É óbvio que tal situação se reflete na escrita, na forma da escrita. Nunca me esqueci de uma lição que aprendi na 5ª série(atual 6º ano) com D. Noeli, minha professora de Língua Portuguesa. Em uma de suas aulas nos contou que em uma guerra, um exército encontrava-se acuado por outro com forças muito superiores e muito mais soldados. O comandante, sabedor da importância da batalha e, respeitando a hierarquia, envia um emissário ao Quartel General para pedir instruções. Recuaria? Manteria a posição? O que fazer? Ao retornar, o emissário toma um tiro, mas seu cavalo continuou a galope com o corpo inerte sobre si, chegando ao local onde as tropas se encontravam. O comandante procurou nos bolsos do emissário e encontrou uma mensagem curta. NÃO, ATAQUEM! O resultado óbvio foi o massacre e aniquilamento daquelas tropas. Posteriormente o tal Comandante foi julgado “post mortem” em corte marcial por ter levado seus soldados direto para a morte. Descobriu-se então que o erro havia sido do emissário que, não dominando adquadamente as normas do idioma pôs uma vírgula após a palavra NÃO. A mensagem correta do comando era NÃO ATAQUEM! Dona Noeli quis nos mostrar com esta historinha o quanto o domínio pleno do idioma pode fazer uma brutal diferença em nossas vidas.

Por isto não tenho dúvidas que o esforço que faço para que nossos alunos escrevam corretamente e saibam responder adequadamente às questões não é em vão, não é algum tipo de “carrasquismo”(existe esta palavra?), não é um gesto sádico de um professor interessado em diminuir, em atemorizar ou rebaixar a auto-estima dos alunos. É um esforço absolutamente premente, fundamental para o futuro de cada aluno. Esforço este que não seria tão necessário se nossos alunos lessem com mais frequência, se tivessem o hábito da leitura.