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sábado, 3 de julho de 2010

A PÁTRIA DE CHUTEIRAS? NÃO, OBRIGADO.

Para alguns alunos e amigos eu havia expressado minha opinião sobre a seleção e suas perspectivas nesta Copa do Mundo e por isto o que escreverei adiante não será surpresa. Para outros parecerá que estou me aproveitando do momento, mas a verdade é que nunca acreditei que ganharíamos este título. Cheguei a me indispor com alguns amigos que me consideraram pouco patriota, o que é verdade. Sou NACIONALISTA, não patriota. O “patriotismo é o último refúgio dos canalhas”, como bem expressou Samuel Johnson. Ou, como afirmou George Bernard Shaw “O mundo jamais será tranquilo enquanto não se extinguir o patriotismo da raça humana”. Como estes pensadores, acho o patriotismo uma das maiores idiotices jamais inventadas. Boa parte das guerras, fratricidas ou não, teve o patriotismo como mote inspirador. Os soldados, invariavelmente são preparados para a guerra com base em uma série de frases feitas sobre patriotismo tais como "A pátria é a família amplificada"(Rui Barbosa),ou "a árvore da liberdade deve ser revigorada de vez em quando com o sangue de patriotas: é seu fertilizante natural"(Thomas Jefferson). Julgo desnecessária e irrelevante este tipo de doutrinação. Soldados devem ser treinados para, profissionalmente defender seu país de agressões, venham de onde vierem, e ponto final. Infelizmente as forças armadas fazem uma confusão enorme quando se trata do verdadeiro papel de um exército e apelam para uma manipulação grosseira das consciências, aproveitando-se da fragilidade mental e da falta de criticidade de muitos dos rapazes e moças que ali estão, muitas vezes apenas em busca de um “ganha-pão” honrado e estável.

O patriotismo está sempre muito próximo do fanatismo, do fascismo. Não foi atoa que o auxiliar de Dunga o invocou quando da convocação para a Copa, visto que Jorginho é um fanático religioso. Devo dizer que torci contra a seleção brasileira exatamente porque não queria ver o triunfo dessa ideologia fanática e ditatorial implantada por Dunga e seu auxiliar. E, além disso, embora não seja muito fã de teorias conspiratórias, afirmei para muitos que esta Copa do Mundo não nos estava destinada porque em 2014 o Brasil é que sediará tal evento. Como perdemos uma copa aqui dentro (no Maracanã) em 1950 e isto deixou uma mágoa enorme, uma grande frustração em milhões de brasileiros, obviamente que, de jeito nenhum perderemos a copa de 2014. Não que ela já esteja “comprada”, mas porque com certeza, e há material humano para isto, será formada uma das melhores seleções de todos os tempos para ganhar em 2014. E, sem dúvida, há o componente econômico a conspirar contra nós. Seria extremamente prejudicial aos negócios milionários da FIFA que uma seleção (de país do Sul, diga-se de passagem) conquistasse a copa duas vezes seguida. E, para fechar a moldura, Ricardo Teixeira, presidente da CBF, candidato à presidência da FIFA, várias vezes afirmou "esta copa posso perder, o que não posso é perder a próxima". Meu amigo Ronaldo,um amante do futebol e que considero um expert no assunto, considerou coerentes minhas argumentações, embora tenha deixado claro que ainda acreditava que a seleção brasileira tivesse capacidade de ganhar esta copa visto que tudo, todos os selecionados estão nivelados por baixo. Ronaldo manteve suas esperanças, seu romantismo futebolístico que ontem esvaíram-se junto com a “segunda Era Dunga”, de forma lamentável e melancólica, diga-se de passagem.

Meu nacionalismo, minhas posturas de defesa do Brasil e da sua importância no mundo, da necessidade de acreditarmos em nosso país, da necessidade de fazermos nossa parte para construir um país melhor para as próximas gerações, da importância de investirmos no desenvolvimento e no crescimento econômico e social do Brasil não podem ser confundidas com patriotismo e/ou patriotada, pois na maioria das vezes tal postura se mostra equivocada e cobra um preço muito alto dos que nela acreditam, dos que por ela se deixam levar. É fácil confundir nacionalismo com patriotismo, mas é importante ressaltar que o amor à pátria leva sempre à exacerbações e à acriticidade, quase sempre com consequências funestas. O nacionalismo pressupõe a defesa crítica do seu grupo de origem, de sua nação, dos valores e da necessidade de se investir de forma justa no desenvolvimento daquele país em especial.

Ao longo de minha trajetória, sempre que algum tipo de politicagem adentrou o campo de futebol fui capaz de torcer sem problemas contra a seleção brasileira. Assim foi em 78 e 82, quando a Ditadura Militar, aproveitando-se da grave crise do país, usou a seleção para fazer os brasileiros se alienarem dos problemas que eles, militares, haviam causado ao Brasil. Não posso deixar de registrar que foi muito difícil, muito doloroso torcer contra a maravilhosa seleção de 82. Só não torci contra em 70 por que tinha apenas 9 anos e nada entendia de política. Ademais, aquela seleção era tão estupenda que de nada adiantaria minha torcida contrária. De 86 em diante sempre torci pela seleção. Mesmo quando da primeira “Era Dunga”, em 1990, quando perdemos o título de forma quase vergonhosa, eu estava lá torcendo pela nossa seleção, ainda que fosse um time bastante medíocre, como o foi a atual seleção. E olha que por gostar bastante de futebol, sou também um apaixonado pelo futebol-arte, pela beleza do espetáculo. Coisa que, no Brasil foi deixada para trás em 1986, como bem disse o ex-jogador Sócrates em um artigo recente. Sócrates afirmou ainda, que a partir daquele momento, os técnicos brasileiros passaram a privilegiar o modelo europeu de futebol-força em detrimento do futebol-arte que, tradicionalmente diferenciou o Brasil no cenário internacional. Não é por acaso que há tantos brasileiros jogando fora de nosso país. Isto se deve à excelência do futebol praticado por aqui.

Então, creio ter esclarecido minha posição. Minha extrema criticidade e minha mania de perfeição fazem com que, em muitos momentos eu nade contra a correnteza, mesmo sabendo que serei bastante criticado ou incompreendido, como ocorreu esta semana com minha colega Mariana que nomeou minha postura como de extremo “azedume”. Aliás, achei ótima a expressão, embora não tenha concordado com ela. Em 2014 serei, sem dúvida, um fervoroso torcedor da seleção brasileira de futebol, podem me cobrar.

5 comentários:

  1. Professor, aliás, qual é a diferença entre nacionalismo e patriotismo?

    Inté!

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  2. ótimo artigo Marcio!
    muito bem pensado...
    realmente existem diferenças gritantes entre patriotismo e nacionalismo

    e se te serve se consolo, eu tb afirmava indubitavelmente q nessa copa o Hexa não nos bateria as caras...não por falta de fé, sim por mera observação técnica.

    Um forte abraço,
    até a próxima

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  3. Pois é, tanto problema se passa em nosso país, quanta incoveniência surge no Congresso e a única coisa que sabemos falar é sobre a copa do mundo. Cantamos o hino nacional, que nada nos representa, de boca cheia.. mas, e o projeto ficha limpa?
    Nos vestimos da cabeça aos pés de verde e amarelo, mas e a falta de educação? Será mesmo que somos patriotas? Idolatramos mesmo nossa pátria? Tenho minhas dúvidas quando vejo tantas pessoas 'cegas' diante tantos problemas que se passam em nossa sociedade.
    Gostei muito do texto, parabéns!

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  4. Obviamente mais um excelente artigo Márcio, você "define" muito bem a diferença exorbitante entre patriotismo e nacionalismo !
    Grande abraço.

    Se possível de uma olhada no meu Blog tb!

    http://jazumpensante.blogspot.com

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  5. "O patriotismo é defensivo, enquanto o nacionalismo é agressivo" (George Orwell)

    Muito bom o seu texto, caro amigo!

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