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domingo, 23 de maio de 2010

O rei está nu

Marcio Azevedo

A fábula sobre a roupa nova do rei, atualizada, possibilita entendermos que os mais críticos são capazes de ver e denunciar a farsa, proclamando que na verdade “o rei está nu”.

O rei está nu porque finalmente conseguiu-se descobrir que as verdadeiras intenções dos Estados Unidos com relação ao Irã passam pela derrubada do governo, pela instalação de um governo fantoche e a dominação irrestrita das reservas de petróleo daquele país, tal como realizado no Iraque a partir de 2003.

O Irã é o terceiro maior produtor de petróleo do mundo, atrás apenas da Arábia Saudita e da Rússia. A estratégia energética para o século XXI dos Estados Unidos elaborada em 1997, já apontava a necessidade de o país dominar o máximo possível de reservas petrolíferas em várias partes do mundo. Isto incluia o Oriente Médio, a Venezuela e até mesmo o Brasil. Não foi por acaso que Fernando Henrique Cardoso começou a preparar a PETROBRAS para ser privatizada. Isto estava em consonância com os objetivos de Washington. As reservas de petróleo dos Estados Unidos são restritas face ao seu elevadíssimo consumo, sendo suficientes para poucos anos. Daí a importância de se capitalizar com reservas de outros países.

Além disso, ter o controle absoluto do estratégico estreito de Ormuz, a saída e entrada do Golfo Pérsico é algo que interessa muito aos Estados Unidos para a manutenção de seu poder global. Outro aspecto importante envolvido é o interesse das indústrias bélicas em que se desenvolva uma nova confrontação militar na região do Oriente Médio, o que possibilitaria testar novas armas e aumentar seus já fabulosos lucros.

Em todo este contexto o que salta aos olhos é que a mediação do Brasil e a vitória da negociação sobre o conflito, significaram uma intromissão e um empecilho aos interesses imperiais dos EUA. Apostando na paz e obtendo um acordo –que, diga-se de passagem, era exatamente o que os Estados Unidos propuseram ao Irã em outubro de 2009-, o Brasil atirou uma grande pedra no lago, criando inúmeras ondas que se afastam do ponto de queda, agitando o que parecia plácido e desnudando as reais intenções da grande potência diante do mundo. Além disso, inseriu-se, contra a vontade dos que comandam o mundo desde 1945, entre os grandes protagonistas da atualidade. Fica claro que a atitude do presidente Lula equivale a “arrombar uma porta” que estava trancada há muito tempo, desagradando profundamente os que estavam confortáveis naquele recinto. O Brasil está forçando o mundo a uma mudança de paradigma e induzindo a gestação de uma nova Ordem Multipolar Internacional, para desespero do atual centro de poder como se pode ler na matéria do The Washington Post: O Post, na sua cobertura do acordo, (18/05), chama a diplomacia do Brasil e da Turquia de “uma revolta das pequenas potências sobre os direitos e o prestígio da potência nuclear”.

A resposta à “transgressão” de Lula não se fez esperar. De imediato o governo americano enviou ao Conselho de Segurança da ONU uma proposta de novas sanções ao Irã, buscando descredibilizar e “desmitiazar” a iniciativa do Brasil, dando excelente munição para a grande mídia nativa que insiste em que o Brasil deva se curvar a Washington e ficar “quietinho em seu canto”, submisso e aguardando as “ordens” de cima. Isto dá força ao pensamento do candidato José Serra que antes da viagem de Lula afirmou “Eu não receberia nem visitaria o presidente Mahmoud Ahmadinejad”, demonstrando sua afinação com a visão de nossas elites de que o Brasil nunca deve aspirar ter alguma importãncia no cenário mundial.

Passados alguns dias, já se sabe que as tais sanções não terão quase nenhum efeito prático, o que só reforça a idéia de que o objetivo era realmente esvaziar a ação do presidente do Brasil. Ao perceber isto o Irã já anunciou que enviará os termos do acordo para análise da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), consolidando a conquista do Brasil e dificultando as ações posteriores dos Estados Unidos.

Conforme afirmou o jornalista Breno Altman “A intervenção do presidente Lula, afinal, não é reveladora apenas de talento e carisma. Apresenta-se como a conseqüência de uma política internacional autônoma que busca fortalecer laços de todos os tipos entre povos e governos encurralados pela ordem unipolar”.

O que está em andamento é muito grande, gigantesco. É a confirmação de que teve início um novo jogo, com novos jogadores. É certo que o mundo ficará um pouco diferente daqui para a frente. Aguardam-se os próximos lances.

Um comentário:

  1. Só temos um problema existe a possibilidade do Brasil ñ participar dos proximos lances , pois ñ se sabe quem vai substituir o Lula. E dependendo dos resultados das eleições talvez todo o trabalho do nosso presidente seja jogado no lixo.

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