Total de visualizações de página

domingo, 12 de fevereiro de 2012

A crise na Europa

Segundo dados divulgados no último dia 31 de janeiro pela agência Eurostat, cerca de 1,65 milhões de pessoas estavam desempregadas no fim do ano passado na zona do euro -uma alta de 751 mil pessoas em relação ao fim de 2010. Ou seja, o número de desempregados naqueles países praticamente dobrou. A Espanha continua líder, com 22,9%, mas pode ser ultrapassada na corrida para ver quem mais desemprega, pela Grécia que já possui 19,2% de pessoas sem nenhuma ocupação. Ainda em relação à Espanha, a taxa de desemprego entre os jovens já se aproxima da estratosférica marca de 50%, o que pode contribuir para a perda de uma geração inteira em termos de massa crítica, se levarmos em conta que os prognósticos são de que a crise não se finde tão cedo.

Mais. Chegou a cerca de 115 milhões o quantitativo de pobres na zona do euro, com possibilidades concretas de que mais de 150 milhões de pessoas sejam inseridas neste grupo. A quantidade de sem-tetos vem aumentando progressivamente em diversos países, associada ao crescimento do número de pedintes nas ruas. Além disso, diante da intensa onda de baixíssimas temperaturas naqueles países o número de mortos por causa do frio já chegou a 600 no sábado, 11/02, sendo que a maioria dos mortos são sem-teto. A ligação entre a crise econômica e o número de mortos é flagrante, visto que o número de pessoas que perderam empregos e a casa onde moravam é imenso. Pior, a onda de frio ainda não acabou. Mais mortes vem por aí.

Outras más notícias: em debate transmitido ontem no programa Painel, da Globo News, três economistas de diferentes tendências afirmavam que o caminho da Grécia é o default, ou seja, suas dívidas são impagáveis e, em breve não restará outra alternativa a não ser o calote. Alguns chegam a propor que a Grécia faça o que fez a Argentina em 2003, reestruturando sua dívida e pagando, a longo prazo, no máximo 20% dela, o que significa na prática um calote disfarçado, embora necessário. Outros analistas predizem que a Grécia não conseguirá se sustentar na zona do Euro e terá de abrir mão da moeda única, retornando à sua velha moeda, o Dracma, se quiser sair mais rápido da crise. Os problemas da Grécia vem se arrastando desde o final de 2009. De lá para cá, três “planos de ajuste”(empréstimos e descontos na dívida) já foram impostos à Grécia e nada adiantou. Em fevereiro de 2010, portanto há dois anos atrás, escrevi um artigo neste blog explicando parte das causas de tal crise na Europa (ver este link: http://professormarcioazevedo.blogspot.com/2010/02/os-piigs-e-as-turbulencias-na-euro-zona.html). Naquele momento, utilizei uma fala do ex-ministro Delfim Netto em que ele afirmava que a crise poderia ser maior do que a iniciada em 1929. Pois bem, hoje já há um grande consenso de que esta crise se tornou maior do que aquela de 80 anos atrás. Entre os mais otimistas estão aqueles que afirmam que, na Europa, a crise deve durar próximo de 10 anos. Repito: 10 anos!!.

Ontem, mais de 300 mil portugueses foram a uma manifestação anti-FMI, anti-crise. Da Grécia à Bélgica, as manifestações e greves ocorrem já como parte do cotidiano das pessoas. Na França, Sarkozy está ameaçado de perder a reeleição por conta da crise. Irlanda e Itália encontram-se inadimplentes. E, para piorar tal cenário que se assemelha ao Inferno de Dante, parte da Divina Comédia, clássico da literatura mundial, os governos europeus não sabem (ou não querem) aplicar outras medidas que não sejam mais austeridade, mais arrocho salarial, mais demissões, mais contenção de gastos. Se você está com insônia, toma um comprimido para dormir. Mas se você tomar 30 comprimidos, provavelmente morrerá de overdose. E esta tem sido a receita dos governos europeus para a crise: quanto mais arrocho, menos consumo, mais falências, mais desemprego, levando a uma espiral para baixo que nunca cessa de piorar. É cristalino e está em todos os manuais de ética médica que a solução para uma doença não é matar o paciente. Mas infelizmente, é o que os governos europeus estão fazendo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário